No meio de uma publicação com doze pontos em que se mistura ironia com alegados factos verdadeiros, surge uma frase em que diz que “a profissão mais segura em Portugal é político”, já que apesar de terem sido contaminados “médicos, bombeiros, canalizadores” ou profissionais de outras áreas, “políticos, nem um“. A informação, apesar de ter tido quase 50 mil visualizações em apenas dois dias, é absolutamente falsa já que têm sido noticiados vários casos de titulares de cargos políticos portugueses que testaram positivo ao novo coronavírus.

No ponto 7 da publicação, o autor alega que não há nenhum político infetado com o novo coronavírus.

Logo a 21 de março, na fase inicial da pandemia em Portugal, foi noticiado que a presidente da câmara municipal de Matosinhos e antiga deputada do PS, Luísa Salgueiro, estava infetada com o novo coronavírus. António Correia Pinto, vereador da Educação e da Qualificação Ambiental no seu executivo, também testou positivo e chegou a estar internado no Hospital Pedro Hispano, em Matosinhos. Desta forma, só em Matosinhos foram dois os políticos infetados.

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Dias depois, Luís Pinheiro, presidente da junta de freguesia de Canas de Senhorim, também testou positivo ao novo coronavírus, após uma visita a Madrid, no início de março. O também chefe de gabinete do presidente da câmara de Nelas foi acusado de ser negligente por não ter feito uma quarentena voluntária à chegada de Espanha. Chegou a dizer, em declarações ao Jornal de Notícias: “É horrível. Ninguém está livre deste inimigo invisível, é preciso ter respeito. Estar positivo não faz de mim um assassino.”

Já o presidente da câmara de Paços Ferreira, Humberto Brito, informou no dia 8 de julho que foi um dos cinco casos positivos detetados em testes feitos a toda a estrutura do município. O caso foi até polémico porque, a 14 de julho,  os bombeiros locais comunicaram à GNR que o autarca “desrespeitou o isolamento profilático de 14 dias a que estava obrigado”. O autarca acusou então os bombeiros de o tentarem “denegrir pessoal e politicamente”, alegando que no dia 12 de julho já tinha na sua posse um conjunto de testes à Covid-19 negativos, não tendo sido irresponsável quando esteve em casa do pai ou no Hospital Padre Américo, em Penafiel, onde foi visto pelos bombeiros.

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O presidente da câmara de Sernancelhe, Carlos Silva Santiago, também revelou no dia 7 de setembro que estava infetado com o novo coronavírus, embora estivesse assintomático. O caso do autarca surgiu numa altura em que aumentaram de forma significativa os casos naquele concelho. No dia seguinte, a 8 de setembro, o vereador da câmara municipal de Ponte da Barca, Inocêncio Araújo, confirmou à Rádio Barca FM que estava infetado.

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Mais recentemente, a 10 de setembro, foi a vez de outro autarca, Luís Pedroso, presidente da junta de Maximinos, Sé e Cividade (uma das juntas de freguesia da cidade de Braga) testar positivo para a Covid-19. O próprio explicou ao jornal O Minho que, pelo facto de exercer um cargo político, foi difícil estabelecer o seu histórico de contactos: “Como qualquer pessoa que é infetada, tentei fazer um backup dos últimos dias, mas vou ser muito sincero, falo com muitas pessoas todos os dias, por causa da função de autarca, e, como tal, não consigo identificar.”

Nesse mesmo dia, foi noticiado que o vereador do Ambiente de Gondomar, José Fernando Moreira, estava infetado com o novo coronavírus. Apesar de assintomático, o vereador soube que o diretor-geral das Águas de Gondomar, Jaime Martins, estava infetado e pediu de imediato para ser testado. Acabou por testar positivo.

Esta não é a primeira vez que surge desinformação a sugerir que os políticos têm algum tipo de imunidade ao novo coronavírus. No início de agosto, circularam várias publicações — que continuam ciclicamente a tornar-se virais no Facebook — que alegam, falsamente, que ainda não morreu qualquer político do novo coronavírus.

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Conclusão

É certo que em instituições como o governo ou o Parlamento não foi público nenhum caso do novo coronavírus, mas há casos de vários políticos portugueses, como autarcas, que testaram positivo ao novo coronavírus. A publicação viral diz que não há “nem um”, mas o Observador encontrou pelo menos oito titulares de cargos políticos que assumiram publicamente ter Covid-19, já para não falar de que muitos dos infetados (sejam políticos ou não) preferem muitas vezes guardar reserva quando descobrem que estão infetados.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

Nota 1: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

Nota 2: O Observador faz parte da Aliança CoronaVirusFacts / DatosCoronaVirus, um grupo que junta mais de 100 fact-checkers que combatem a desinformação relacionada com a pandemia da COVID-19. Leia mais sobre esta aliança aqui.

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