Uma simples publicação do Facebook com alguns números supostamente oficiais da economia brasileira começaram a ser partilhados no passado dia 27 de julho deste ano. Três setores diferentes: desemprego, contas públicas e empresas estatais. Em todas, os números são melhores em 2022, ano em que Jair Bolsonaro ainda é presidente daquele país, mas vai a jogo no próximo mês de outubro. Trata-se, no entanto, de uma publicação enganadora.

Olhando novamente para a publicação em questão, não se vislumbra qualquer fonte oficial ou artigo noticioso que comprove que os dados apresentados pelo autor sejam verdadeiros. A não ser um excerto de uma suposta notícia da CNN Brasil, onde se lê o seguinte: “Brasil foi responsável por mais de 50% do PIB da América do Sul em 2021”.

Ora, fazendo uma pesquisa, essa notícia é de facto verdadeira, mas também é certo que desde, pelo menos, a década de 1970, que aquele país lidera esta posição naquela região do globo. “O resultado reflete uma capacidade brasileira de aproveitar melhor as potencialidades do país, mas não significa que a economia não passe por problemas ou não demande reformas para melhorar seu desempenho”, lê-se no artigo. Ou seja, apesar de ser um bom indicador, não quer dizer que o Brasil não enfrente uma realidade económica dura para certos estratos sociais brasileiros.

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Detalhando os números, comecemos pelos do desemprego. De facto, se olharmos para o que está no Instituto Brasileiro de Estatística, a média de desemprego em 2018 foi de 12,3%. Só que essa conta é feita trimestralmente, portanto, os números finais de 2018 são diferentes dos tais 12,3%. O mesmo raciocínio serve para os números do desemprego em 2022 que estão na imagem: foram de 9,8%, sim, mas do trimestre deste ano que terminou no passado mês de maio. E para se saber a percentagem final deste ano, é preciso que o ano acabe. E, por isso, não é possível fazer a comparação que foi partilhada pelo autor.

Quando se olha para as contas públicas que estão na imagem, o raciocínio é praticamente o mesmo. A percentagem de 2022 (superávite de 109 mil milhões de reais) diz respeito a todo o setor público, já o de 2018 não: apenas às contas do governo federal do Brasil, esquecendo depois todos os outros organismos públicos como câmaras municipais, por exemplo.

Basta, para isso, olhar para o Boletim de Resultado do Tesouro Nacional, tal como fez a Agência Lupa, que também verificou esta publicação e declarou como falsa. O défice primário ficou nos 116,2 mil milhões de reais, mas, quando olhamos novamente para 2022 (que não fechou) o défice ficava nos 21,5 mil milhões de reais. Números diferentes dos partilhados pelo autor, recorrendo a cálculos que não podem ser feitos comparativamente porque este ano decorrente ainda não terminou.

Quanto aos lucros ou prejuízos das empresas do Estado, basta olhar para o número indicado no ano de 2018: é falso. O Boletim das Empresas Estatais refere que essas mesmas empresas tiveram um lucro de mais de 60 mil milhões de reais, ao contrário do prejuízo de 1,8 mil milhões de reais referido pelo autor da publicação original.

Conclusão

Não é verdade que todos os números das contas públicas, do desemprego ao desempenho das empresas estatais no Brasil sejam significativamente melhores no ano de 2022 do que em 2018, ano de eleições naquele país. A comparação feita pelo autor, desde os números do desemprego às contas públicas, não pode já ser feito simplesmente porque este ano ainda não fechou. Ou seja, a comparação é enganadora e, também por partilhar uma notícia que beneficia a liderança de Jair Bolsonaro, pode ser considerada como manipulada para ajudar a campanha do atual presidente brasileiro.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ENGANADOR

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

PARCIALMENTE FALSO: as alegações dos conteúdos são uma mistura de factos precisos e imprecisos ou a principal alegação é enganadora ou está incompleta.

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