Mal chegou à sede do PS, em Lisboa, para seguir a noite eleitoral autárquica, o líder socialista afirmou, com algumas reservas, que se o PS voltar a ser, neste domingo, “o partido com maior número de câmaras e o maior número de freguesias”, esta “será a primeira vez que um partido ganha três vezes consecutivamente eleições autárquicas”. “Creio que nunca aconteceu”, disse o líder socialista. Mas será que António Costa está certo?

O líder do PS admitiu ainda não ter “visto bem os números dos anos 80” e é precisamente nessa década que a sua afirmação falha. Mas comecemos pelo critério de vitória, que para Costa está bem definido e “é pacífico”. “Ganha as autárquicas o partido que ganha o maior número de câmaras e de freguesias”, disse ainda este domingo, à chegada ao Largo do Rato.

Segundo este critério, o PSD somou mais câmaras em três eleições consecutivas: 1979, 1982 e 1985 (nessa época, e até 1985, as eleições para o poder local realizavam-se a cada três anos). E isto mesmo se descontarmos as câmaras ganhas pela Aliança Democrática (que juntava PSD, CDS e Partido Popular Monárquico) nas eleições de 79 e de 82. Aliás, em 1982, as eleições foram ganhas pela direita, que junta somou mais de 41% dos votos (e 164 câmaras contra 63 do PS).

Mas o então primeiro-ministro, Francisco Pinto Balsemão, demite-se, falando num “desaire eleitoral”, já que tinha colocado a fasquia nos 45%. Outras razões políticas pesaram nessa decisão de abandonar o Governo, mas a verdade é que mesmo essas eleições foram ganhas pelo PSD, que conquistou 88 câmaras. A Aliança Democrática (AD) venceu em 49 municípios e o CDS em 27. O PS tinha 83.

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Em ambas as eleições — nas de 1979 e nas de 1982 —, mesmo descontando as autarquias conquistadas pela AD, o PSD conseguiu sempre mais câmaras que o PS. Em 1979, o PSD sozinho teve 101 câmaras e o PS apenas 60. Em 1982, o PSD ganhou 88 câmaras e o PS conquistou 83. E, em 1985, o PSD teve 149 câmaras e o PS saiu vitorioso em 79. E, mesmo se recuarmos a 1976, o PSD e o PS saíram empatados em números de câmaras, embora em número de votos tenha sido o PS o vencedor, com 33,24% a nível nacional, enquanto o PSD teve 24,27%.

Se olharmos para as percentagens de votos, também é a direita a sair vitoriosa nessas três eleições autárquicas. Em 1979, a AD em conjunto teve mais de 40% dos votos, em 1982 ficou acima dos 41% e em 1985 o PSD teve 33,88%, contra os 27,41% do PS.

Em 1989, o PS ganhou as eleições, com 116 câmaras conquistadas contra 113 do PSD. Em 1993, os socialistas ganharam 126 câmaras e o PSD 116. Em 1997, o PS e o PSD tiveram o mesmo número de câmaras, 127. Em 2001, ano do “pântano” de António Guterres, o PSD virou o país e conquistou 142 câmaras, contra 113 do PS. Em 2005, os sociais-democratas conseguiram 138 câmaras e o PS 109. Em 2009, o PS conseguiu reverter o cenário e conquistou 132 câmaras, contra as 117 do PSD. Em 2013, o PS teve 149 câmaras e o PSD 86. Em 2017, o PS contou 159 câmaras nas autárquicas e o PSD 79.

Conclusão

Não é correto dizer que nunca um partido ganhou três vezes consecutivas eleições autárquicas, porque isso já aconteceu. Em 1979, 1982 e 1985, o PSD obteve sempre mais câmaras do que o PS nas eleições autárquicas. Quando o afirmou, António Costa dizia que ainda não tinha visto “os números dos anos 80”, mas tinha a ideia de que era assim. No entanto, está errado.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

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