Uma publicação que circula em página oriunda do Brasil cola dois textos diferentes numa imagem para alegar que o Governo venezuelano não enviou ajuda a Manaus numa altura em que a capital do Amazonas estava a pedir ajuda internacional e os hospitais estavam a ficar sem oxigénio e a precisar de transportar doentes para outras cidades. A justificação para se duvidar da ajuda venezuelana é o facto de a empresa fornecedora de oxigénio White Martins ter uma filial no país e ter enviado ajuda. Diretor do Hospital Beneficente Português do Amazonas confirma ao Observador a doação feita por aquele país.

É verdade que a empresa White Martins enviou oxigénio a partir da filial na Venezuela, oxigénio esse que foi “solicitado” pelo governo venezuelano para uma doação direta ao governo do Amazonas. Essa informação é confirmada à Folha de São Paulo pela própria empresa, que revela que os 30 mil metros cúbicos de oxigénio que já iria fornecer a Manaus foram, afinal, convertidos em ajuda governamental venezuelana. Mas vamos a datas: este carregamento tinha chegada prevista para o dia 22 de janeiro a Manaus.

Só que o governo venezuelano não enviou apenas estes 30 mil metros cúbicos de oxigénio. Antes deste carregamento, a 19 da janeiro, começaram a chegar os 107 mil metros cúbicos de oxigénio a Manaus que foram, estes sim, iniciativa do governo venezuelano e adquiridos à empresa Siderúrgica del Orinoco (SIDOR), como revelava o ministro dos Negócios Estrangeiros da Venezuela, Jorge Arreaza, no Twitter.

Assim, houve dois carregamentos diferentes a partir da Venezuela que tiveram o envolvimento do governo venezuelano. Por causa da confusão, a White Lines clarificou à Folha de São Paulo que nada tinha a ver com este carregamento de 107 mil metros cúbicos, e acrescentou que existem outras operações de envio de oxigénio para Manaus, estas sem qualquer envolvimento estatal.

A doação anunciada pela Venezuela publicamente — os tais 107 mil metros cúbicos de oxigénio — não são, assim, alvo de dúvida, e começaram a chegar no dia 19 de janeiro, como confirmaram tanto as autoridades do Amazonas à imprensa brasileira, e como foi confirmado também ao Observador por uma fonte em Manaus. Por coincidência, a 20 de janeiro, pelas 3 da manhã — ainda era dia 19 em Manaus —, o Observador estava em contacto com o diretor do Hospital Beneficente Português do Amazonas. O pretexto da conversa era a falta de oxigénio nos hospitais da capital daquele estado brasileiro, a ajuda venezuelana veio por acréscimo. O diretor do hospital português, Flávio Vilhena Gonçalo, dizia que “sobre o oxigénio, a situação melhorou” e acrescentava: “Acabo de receber a confirmação de que o oxigénio que foi doado pela Venezuela chegou nesse exato momento a Manaus”.

Conclusão

É verdade que a empresa White Martins doou oxigénio a Manaus, mas não é verdade que esta ajuda tenha substituído aquela que foi anunciada pelo Governo venezuelano. A doação estatal foi adquirida à empresa SIDOR e começou a chegar a Manaus a 19 de janeiro, como confirmou o Observador.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

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