A queda do helicóptero que transportava o Presidente do Irão, Ebrahim Raisi, e o chefe da diplomacia de Teerão, Hossein Amir-Abdollahian, continua a motivar várias dúvidas nas redes sociais. Uma publicação sugere que a aeronave terá caído por conta de uma “luta interna pelo poder”, a tese mais “coerente” para explicar o acidente.

“Na minha opinião, foi um assassínio muito bem preparado. Tudo indica isso e foram divulgadas muitas mentiras”, lê-se na publicação, que é acompanhada por um vídeo em que, segundo o post, é possível ver o “acidente de helicóptero persa (iraniano)”.

Para desconstruir as “mentiras”, na publicação lê-se que o jornal norte-americano New York Times noticiou que os corpos de Ebrahim Raisi e Hossein Amir-Abdollahian foram encontrados “completamente queimados” e ficaram “irreconhecíveis”, sendo que o Chefe de Estado “foi identificado pelo anel” e o ministro dos Negócios Estrangeiros pelo “relógio”.

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Estas alegações serão factuais. O New York Times realmente apurou junto a três fontes iranianas que os corpos dos tripulantes ficaram carbonizados após a queda do helicóptero. Mas este argumento está longe de ser suficiente para provar que se tratou um atentado.

Como tal, o autor da publicação lembra ainda que o acidente se deve “a uma atualização incorreta dos rotores do helicóptero Bell 412”. Não obstante, a aeronave que transportava a delegação presidencial iraniana, que regressava no passado dia 19 de maio de uma região do Irão fronteiriça com o Azerbaijão, era um Bell 212.

Insistindo na tese de que foi um atentado, a publicação lembra ainda as palavras do Presidente da Bielorrússia, Alexander Lukashenko, que responsabilizou os Estados Unidos pelo “assassínio do Presidente iraniano”, porque impediu as empresas do país de fazerem a manutenção do helicóptero.

Conhecido pela aliança com a Rússia, que por sua vez mantém boas relações com o Irão, assim como a sua animosidade face ao Ocidente, o Presidente da Bielorrússia realmente culpou os norte-americanos pelo acidente. Não obstante, isso não sustenta o argumento de que se tratou de um atentado. É verdade que os Estados Unidos aplicaram múltiplas sanções à indústria aeronáutica do Irão, mas a utilização do helicóptero naquele dia apenas esteve apenas dependente das autoridades iranianas.

Por agora, uma investigação preliminar levada a cabo pelas forças armadas iranianas garante que o helicóptero “caiu numa área de grande altitude” por conta do mau tempo que se fazia sentir nos arredores da cidade de Varzeqan, no norte do Irão. Não foram ainda vistos “tiros ou similares” nos destroços da aeronave e nada de “suspeito” foi detetado nas conversas entre os controladores aéreos e a tripulação do voo.

Contrariamente ao sugerido na publicação, afasta-se assim o cenário de atentado por parte de uma potência estrangeira ou uma “luta pelo poder interno”, que teria estado na origem da queda do helicóptero.

Além disso, o vídeo que se vê na publicação não ilustra o acidente de helicóptero que transportava a delegação presidencial iraniana, de que não sequer há filmagens conhecidas até ao momento. Mostra antes imagens de um acidente de helicóptero da que ocorreu na Geórgia em 2022.

A 29 de julho de 2022, um helicóptero pertencente à Guarda Fronteiriça Georgiana despenhou-se, enquanto procurava sobreviventes de um acidente de parapente. Toda a tripulação acabou por morrer na sequência do acidente.

Conclusão

Várias das alegações presentes nesta publicação nas redes sociais até podem ser parcialmente verdadeiras, mas nenhuma sustenta que a queda do helicóptero que transportava Ebrahim Raisi e Hossein Amir-Abdollahian se tratou de um atentado. Até ao momento, tudo parece indicar que foi um acidente resultante do mau tempo. O post inclui ainda um vídeo em que se vê uma aeronave a despenhar-se, mas não é a que transportava a delegação iraniana no passado dia 19 de maio, mostrando antes a queda de um helicóptero da guarda fronteiriça da Geórgia em 2022.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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