Há 16 anos atrás, quando iniciei o meu doutoramento na Universidade de Zurique sobre o Acesso à Saúde Mental, lia frequentemente que em 2020 a depressão viria a ser a primeira causa de incapacidade por todo o mundo. E aqui chegámos.

Em saúde mental temos uma medida chamada DALY: Disability Adjusted Life Years (em português – AVAI: Anos de Vida Ajustados por Incapacidade) que mede o peso da doença expressa no número de anos perdidos por questões de doença.

No mundo, no TOP 1 dos DALY temos a depressão, independentemente de se ser homem ou mulher. A depressão é o transtorno mental mais comum que actualmente atinge um número cada vez maior de pessoas no mundo. A depressão é mais do que apenas tristeza. A depressão é uma doença real e traz consigo um alto custo em termos de problemas de relacionamento, sofrimento familiar e perda de produtividade.

No entanto, a depressão é uma doença altamente tratável, com técnicas de coping (lidar com as situações), cognitivo-comportamentais (pensamentos e comportamento) e nalguns casos também medicação.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

As pessoas com depressão podem sentir falta de interesse e prazer em actividades diárias, perda ou ganho de peso significativo, insónia ou sono excessivo, falta de energia, incapacidade de concentração, sentimentos de inutilidade ou culpa excessiva e pensamentos recorrentes de morte ou suicídio.

Este ano, a Organização Mundial da Saúde escolheu a prevenção do suicídio para assinalar o 10 de Outubro – Dia Mundial da Saúde Mental. Actualmente, por ano, suicidam-se 800.000 pessoas e o suicídio é já a segunda causa de morte entre os jovens (15-29 anos).

Talvez valha a pena começarmos a falar em primeiros socorros em saúde mental. São cada vez mais as famílias e organizações que me contactam a perguntar o que fazer com uma pessoa que parece estar com uma depressão, um ataque de pânico, uma perturbação do comportamento alimentar ou em auto-agressão.

Se há 16 anos atrás, em que eu queria dar formação em primeiros socorros em saúde mental, contava-se pelos dedos de uma mão quem me queria ouvir, hoje a situação parece completamente diferente.

Por primeiros socorros em saúde mental entenda-se a ajuda imediata a uma pessoa que parece encontrar-se com um problema de saúde mental até à chegada da ajuda profissional especializada e atempada:

  1. O que dizer?
  2. Como escutar?
  3. O que observar?
  4. Como tocar?
  5. Quem chamar?

Estas e outras questões fazem parte do kit de primeiros socorros em saúde mental que cada cidadão devia possuir nos dias de hoje.

E, por isso, lanço aqui um desafio aos meios de comunicação social: podemos em conjunto começar por lançar um Kit SOS Depressão?