Quando virem nos ecrãs as caras empoeiradas de crianças feridas na operação militar que Israel conduz em Gaza contra os terroristas do Hamas, pensem que há quem seja completamente indiferente ao sofrimento dessas crianças: é o Hamas. O Hamas sabia o que ia acontecer quando planeou o massacre de judeus de 7 de Outubro. Sabia que os civis em Gaza iam encontrar-se num campo de batalha. O Hamas preparou túneis e bases subterrâneas para se proteger. Usou para isso os materiais de construção que entravam em Gaza. Não os usou para construir abrigos para a população, como existem em Israel. Para o Hamas, os habitantes de Gaza são mais interessantes mortos do que vivos. Mortos, são o material de propaganda com que conta minar o apoio ocidental a Israel.

É este o jogo macabro do Hamas, e perante isso há quem lamente o modo como Israel, ao atacar os terroristas em Gaza, parece jogar esse jogo. É compreensível. Nada como o sofrimento de inocentes para desgastar a razão de uma guerra. A extrema-esquerda anti-semita ocidental aproveita para criminalizar Israel, como se a guerra fosse um simples capricho sádico. Por isso, sem subestimar a dor em Gaza, há que fazer duas perguntas.

A primeira é esta: que sugerem que Israel faça em alternativa? Que deixe em paz os terroristas do Hamas, para continuarem a lançar contra Israel os seus mísseis e operações de rapto e massacre? O Hamas não quer governar Gaza. Ao Hamas, não interessa um Estado árabe independente na Palestina. O Hamas só pensa em destruir Israel e eliminar a população judaica no Médio Oriente. E ninguém tem influência sobre o Hamas, a não ser o Irão, que também não pensa noutra coisa. Muros e defesas anti-mísseis também não pararam o Hamas. Percebe-se que Israel tente derrotá-lo militarmente.

A segunda pergunta é a seguinte: porque não acreditam que Israel está a fazer todos os possíveis para causar o mínimo de baixas civis em Gaza? A 7 de Outubro, o Hamas tentou matar o maior número de judeus, e gabou-se das mortes que causou. Mas Israel é um Estado de direito democrático, com os valores do Ocidente. Por isso, devemos esperar de Israel que respeite princípios humanitários que o Hamas não respeita. Mas devemos também presumir que Israel, condicionado embora pela operação militar, tudo está a fazer para os respeitar.

O que Israel se propôs fazer em Gaza é difícil. Em 2016-2017, forças iraquianas e curdas, amparadas pelos EUA, executaram uma operação similar em Mossul para liquidar o Estado Islâmico, que se fortificara na cidade. Milhares de civis morreram no meio dos combates. Mas a alternativa era tolerar que o Estado Islâmico continuasse a cortar gargantas e a inspirar atentados no resto do mundo. Em Gaza, a guerra é igualmente abominável, mas ninguém tem alternativa, senão deixar o Hamas prosseguir os seus pogroms. É essa a tragédia.

O Hamas não é um pequeno movimento de resistência. É um instrumento da teocracia iraniana. A sua derrota é fundamental. É fundamental para Israel, que nunca poderá viver com uma grande base de terrorismo nas suas fronteiras. É fundamental para o Ocidente, que não pode permitir que um Hamas vencedor volte a pôr o jihadismo na moda, como no tempo do Estado Islâmico. É fundamental para os Estados árabes, que não querem ver o Irão controlar o Médio Oriente. É fundamental para os árabes da Palestina, pois só o fim do terrorismo poderá desbloquear a fundação do seu Estado. Interessando a todos, a derrota do Hamas é, no entanto, tarefa de Israel. É Israel que, por todos, tem de sujar as mãos em Gaza. Os outros podem assim permitir-se o luxo de se sentirem chocados. A hipocrisia tem talvez um lado respeitável, como homenagem à virtude, mas não abusemos dela.

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