Tem-se enfatizado a questão dos cartazes do cartoonista Pedro Brito, que representam uma cabeça de porco com lápis espetados nos olhos. O autor dos cartazes da “polémica” diz que os mesmos são um produto da sua liberdade de criação individual e não uma encomenda de qualquer sindicato. Aliás, tanto o STOP como a FENPROF e a FNE já vieram a terreiro demarcar-se dos cartazes e até da própria manifestação. Pedro Brito é ele próprio um professor de Matosinhos que está colocado numa escola em Évora e que esteve presente nos protestos dos professores no Dia de Portugal no Peso da Régua, perante a presença de António Costa.

Pode aventar-se o mau gosto da ilustração escolhida pelo cartoonista, pode até aceitar-se o repúdio do visado, mas as acusações de “racismo” não fazem sentido. A imagem não indicia, para além da “brutalidade” que a carateriza, qualquer atitude xenófoba ou racista. É mais um gesto de “vitimização” a que o primeiro-ministro já nos habituou, desprovido neste caso de qualquer sentido lógico. Será que AC tem complexo de inferioridade face à cor da sua pele, à sua ascendência indiana (origem goesa pelo lado paterno)?

Também as palavras de ordem transcritas nos ditos cartazes, “radical” e “demissão”, não têm qualquer cariz racista. Por outro lado, todos nos lembramos da indignação gerada pelo massacre perpetrado em janeiro de 2015 por muçulmanos radicais na sede parisiense do jornal caricaturista Charlie Hebdo, por este jornal publicar caricaturas do profeta Maomé. François Hollande, na altura o Presidente de França, terá dito: “Este ato bárbaro nunca vai extinguir a liberdade de imprensa”, frase que se transmudou na divisa de muitos cidadãos por todo o mundo ocidental “Je suis Charlie”.

Diabolizar os cartazes de Pedro Brito configura também um atentado à liberdade de expressão e de criação, um terreno da atividade humana que, apesar de não estar acima de tudo e de todos, merece, no entanto, uma abordagem particular, porquanto a criatividade tem as suas próprias caraterísticas endógenas que não prescindem de uma grande dose de liberdade. Hoje, usa-se e abusa-se do “delito de opinião”, o que nos parece um sinal de enfraquecimento democrático.

Acresce que os cartazes já tinham sido usados em outras manifestações de professores, o que pode significar que o primeiro-ministro se serviu de um momento mediático associado a uma efeméride para subverter o cerne da questão que é a luta dos Professores que, na sua esmagadora maioria, não se reveem neste gesto indecoroso, ou para desviar as atenções dos problemas da escola pública. A presença no Douro, no 10 de junho da Régua, do ministro João Galamba, ele próprio alvo de assobiadelas, numa atitude que poderemos considerar provocatória para as gentes do Douro e para o próprio Presidente da República, configura uma ação premonitória do chefe do Governo.

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