Alguns comentadores na comunicação social interrogam-se e interrogam o País da razão do Partido Socialista, depois de oito anos no poder com António Costa e após mais 12 anos anteriormente, continuar a ter a preferência de muitos portugueses, mostrando com isso uma grande resiliência, razão que pode conduzir à sua vitória nas próximas eleições. Infelizmente, a ser verdadeira a afirmação, esses mesmos comentadores teriam a obrigação de conhecer a resposta, na medida em que são eles próprios parte do fenómeno da possível inexistência de alternância democrática em Portugal.

Veremos em Março próximo, mas a explicação é relativamente simples: (1) o PS tem hoje militantes e amigos da sua confiança em todos os postos do Estado e mesmo em algumas empresas privadas do regime, que beneficiam da protecção do Estado, por exemplo: finanças, energia, telecomunicações.; (2) aquilo a tenho chamado a grande família socialista é assim a grande beneficiária desses bons empregos e das mordomias daí resultantes e criou uma extraordinária unidade entre todos os  seus membros na defesa do seu interesse comum; (3) por esse facto, todos os socialistas surgem nas televisões a repetiram exactamente o mesmo, o que torna o que dizem a versão dominante de cada tema em debate; (4) sendo a televisão a mais dominante forma de informação dos portugueses, nomeadamente das classes culturalmente mais dependentes, muitos comentadores, quase sempre os mesmos e desde há muito tempo, tornaram-se também arautos da verdade única, reforçando o fenómeno.

Infelizmente, o resultado é a generalização da mentira e da meia-verdade, com efeitos muito favoráveis para o partido no poder à força da repetição. Por exemplo, há dias o ministro das Finanças afirmou no Parlamento que a política energética portuguesa é um sucesso, assim como a política ambiental do Governo, porque durante sete dias a totalidade da energia consumida foi de origem 100% renovável. Infelizmente, nenhum comentador informou que como as energias renováveis são intermitentes, as importações de electricidade de Espanha sobem e que o défice tarifário que tinha sido quase eliminado pela acção da Troika voltou a crescer e já está em 2.000 milhões de euros.

Outro exemplo: tornou-se uma verdade indiscutível a tese das contas certas e que existe muito dinheiro no cofre. Todavia poucos dizem que a dívida do Estado aumentou desde 2015 até hoje cerca de 72.000 milhões de euros, ou seja, como é possível ter o cofre cheio e a dívida a crescer? Será que as famílias que têm a sorte dos seus rendimentos aumentarem, continuam a endividar-se em idêntica proporção, esquecendo-se de que a vida tem altos e baixos? Infelizmente, também ninguém explica, comentadores incluídos, que a divida continua a crescer, apesar do Governo ter criado a ilusão da sua relação com o PIB para afirmar o contrário. Trata-se de afirmar, com grande sucesso, que uma coisa diminui enquanto cresce e sem explicar o fenómeno.

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Outra forma de manter o PS no poder consiste em deixar alguns temas negativos e demasiado evidentes fora da comunicação social, para fazer esquecer que existem. Por exemplo, o PS decidiu manter a bitola ibérica na ferrovia para evitar, diz Pedro Nuno Santos, a concorrência internacional às empresas portuguesas, CP (passageiros) e Medway (carga), tese absurda, mas ignorada pelos comentadores. Todavia é evidente que uma tal política marxista é insustentável em economias de mercado, modelo económico dominante na União Europeia para onde enviamos cerca de 75% das nossas exportações. Todos os comentadores sabem isso, mas poucos o dizem.

Resta dizer que a resiliência do PS e a ausência de alternância democrática não é um fenómeno novo, existiu no México um modelo semelhante durante, penso, meio século e por razões semelhantes.

Nota: os sectores financeiro, da energia e das telecomunicações estão entre os maiores anunciantes na comunicação social do regime.