Relatório: exposição oral ou escrita, objectiva e minuciosa, de um assunto.
Preliminar: que precede o assunto principal para o esclarecer.
(Fonte: Infopédia, Dicionários Porto Editora.)

Era também a ideia que eu tinha. “Relatório” não é a exposição oral ou escrita, subjectiva e ardilosa, de um assunto. Nem “preliminar” é o que precede o assunto principal para o branquear. Que terá sido a ideia com a qual ficou quem não for tão fã de etimologia, após a apresentação do relatório preliminar da Comissão Parlamentar de Inquérito à TAP.

Pela pena da deputada socialista Ana Paula Bernardo, vieram à luz uma espécie de Apontamentos Europa-América da CPI à TAP, mas em versão Apontamentos Largo do Rato-São Bento da CPI à TAP. Que é uma versão dos acontecimentos já revista pelos sensitivity readers socialistas. E portanto expurgada daquela coisa a que eles são completamente alérgicos… Ai, como é que se chama? Vocês sabem… é a Kryptonite dos socialistas… Ai… A verdade! É isso! A verdade. A verdade ficou mais de fora do relatório preliminar que os seios da Pamela Anderson do fato de banho do Baywatch.

A deputada Ana Paula Bernardo, essa, dá de facto pena. Porque só há duas hipóteses. Ou a deputada foi simplesmente a primeira parlamentar com quem António Costa se cruzou e a quem o primeiro-ministro pôs o relatório à frente para assinar. E nesse caso Ana Paula Bernardo foi vítima de rubricajacking. Ou, em alternativa, foi mesmo a deputada quem produziu o infame documento. E, nesse caso, temo que a verba necessária para adquirir o Memofante preciso para a senhora levar uma vida normal tenha já sido injectada na TAP.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A propósito da CPI à TAP, disse o ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva: comportamentos e lógicas de funcionamento das comissões de inquérito que são elas próprias degradantes da função política (), em que os deputados são uma espécie de procuradores do cinema americano de série B dos anos 80 (…). Tenho dúvidas quanto à referência cinematográfica, mas tenho a certeza que, do ponto de vista do argumentário politico-imbecil, levar o assunto para os anos 80 é má ideia para o PS. É que nos anos 80 dificilmente um Passos Coelho, então na casa dos vinte anos, poderia ter culpa por tudo o que se passa na TAP.

Mas aproveitando a boleia cinéfila do culto ministro da Cultura, Adão e Silva, que dizer do pornográfico descaramento com que o Governo fechou o Palácio de Monserrate, em Sintra, porque lhes apeteceu fazer uma reunião informal no sábado passado? Que patrões:

António Costa: Ambrósia, apetecia-me algo.

Ana Paula Bernardo: Ana, Sr. Primeiro-Ministro. Tomei a liberdade de pensar nisso, Sr. Primeiro-Ministro. Fiz-lhe um relatório da última reunião sobre a produção de batata em que só menciono alfaces, cenouras e abóboras.

António Costa: Não, Ambrósia, o que me apetecia era reunir o Governo noutro sítio. Sei lá, nos Jerónimos, no Mosteiro de Alcobaça, em Monserrate…

Ana Paula Bernardo: Ana. Entendo, Sr. Primeiro-Ministro. E não me refiro a “entender” como “entendi” o que se passou na CPI à TAP. Refiro-me mesmo a entender, entender.

António Costa: Olhe, Ambrósia, mande fechar estes sítios todos, que eu depois logo decido onde vamos consoante o número de membros que o governo ainda tiver amanhã de manhã.

Número esse que ficou entretanto reduzido em uma unidade, depois da demissão do secretário de Estado da Defesa, Capitão Ferreira, suspeito de ter beneficiado de um contrato de prestação de serviços fictício, que lhe rendeu 60 mil euros em quatro dias. Há quem diga que é muito dinheiro, mas não. O que são os 60 mil euros em quatro dias do Capitão Ferreira, ao pé dos 500 mil euros por dia do capitão Cristiano? Uma vergonha, até.