Como freguês de Campo de Ourique, as eleições de Domingo não podiam ter corrido melhor. Pedro Costa, Presidente da Junta, foi reconduzido. Uma grande vitória para Campo de Ourique. Aleluia, aleluia. É que Pedro Costa é filho do nosso Primeiro-Ministro (posição que acumula com a de filho do Secretário-Geral do PS) e isso é uma sorte incrível. Se António Costa se fartou de dar prendas a autarcas do PS que nem sequer são seus familiares, imaginem o que não vai oferecer ao próprio filho! Uma maternidade não chega. No mínimo, conto com um aeroporto, um Centro de Interpretação da Expressão “Resvés Campo de Ourique” folhado a ouro e uma ponte sobre o Tejo a partir do Jardim da Parada até à Cova do Vapor, para poder ir à praia da Caparica sem apanhar trânsito. Espero que Pedro Costa se tenha portado bem este ano, para poder receber bons presentes de Natal do papá, como bom rebento que é.

Por falar em rebento, já os eleitores da Freguesia de Santo António da Charneca, no Barreiro, desperdiçaram a oportunidade de elegerem Luís Gobern Lopes, bombista das FP-25. O Anarquinho (petit nom querido de Gobern Lopes) era candidato nas listas do Bloco de Esquerda, mas não conseguiu votos suficientes para ser eleito. (Se bem que, mesmo que fosse eleito, não havia garantias que Gobern Lopes cumprisse o mandato até ao fim. A última vez que foi colocado numa instituição do Estado, o Anarquinho só cumpriu 5 dos 17 anos a que tinha sido, digamos, eleito).

Numa entrevista à Sábado, Anarquinho garante que, no Bloco, nunca lhe puseram dificuldades: “De todo, nunca tive problemas com o BE, aliás quando concorri pus lá que era preso político das FP-25”, descreve à Sábado. “Fui da concelhia uma série de anos, estive na distrital de Setúbal”, aponta, embora hoje prefira, até pela idade e “para dar lugar aos mais novos”, um papel mais recuado como militante de base. “Mas nunca tive nenhum estigma no partido.”

O que, convenhamos, é muito simpático por parte do Bloco. O partido é forte a estigmatizar e costuma ser muito exigente com os seus autarcas. Lembremo-nos como foram implacáveis com Ricardo Robles, vereador em Lisboa, que investiu em imobiliário e que acabou marcado pela infâmia.

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Pelos vistos, o Bloco é mais intransigente com militantes que vendem casas a um preço considerado elevado do que com militantes que põem bombas. São princípios, e o Bloco não tergiversa. Construção cara, fora de questão. Demolição ao desbarato, tudo bem. Nenhum bloquista quer ser visto ao pé de Robles, mas não hesita em posar com Gobern Lopes. O que, para ser sincero, percebo. Primeiro, por uma questão de segurança: em princípio, é ao pé de um bombista que há menos hipóteses de rebentar uma bomba. Depois, Robles deixou de ser útil ao partido em Lisboa, enquanto Gobern Lopes, com a sua experiência enquanto terrorista, daria um estupendo autarca barreirense. Aliás, é possível que tenha sido a sua experiência a promovê-lo a candidato.

Para já, é refrescante haver diversidade na política. Não podem ser todos advogados ou funcionários públicos, há que variar e introduzir profissões novas. Bombista é uma lufada de ar fresco – com um cheirinho a pólvora, mas fresco, ainda assim.

As suas habilitações com explosivos podiam dar jeito no Barreiro, caso quisessem implodir Coina, por exemplo. Ou, agora que vem aí a chuva, se fosse preciso desentupir sarjetas. Ou até vergar um explorador capitalista. Nunca se sabe quando é que aparece um explorador capitalista que é preciso vergar.

Agora, tenho alguma curiosidade em conhecer melhor os candidatos que vinham atrás de Gobern Lopes nas listas. O Anarquinho era o 7º na pauta, Indira Anais Dias Guerreiro era a 8ª, Carolina Saltão Lopes a 9ª e Toni Alexandre Almaça Ambrósio Rosado o 10º. O que é que não as recomenda? Que características terão estas pessoas para que, na altura de fazer as listas, tenha havido alguém do Bloco a dizer: “A Indira? Nem pensar, pá. Se é para isso, põe o bombista!”