El nuevo PP: más economía y menos debates estériles” fez a manchete do ABC Espanhol do passado Domingo. O mote resumia assim o Congresso do PP de Madrid, que terminou com a eleição e entronização de Isabel Díaz Ayuso como líder regional do partido.

A frase, poderosa pela simplicidade e definidora de uma estratégia clara e acertada, deve igualmente servir de guião ao próximo Presidente do PSD – seja ele Jorge Moreira da Silva ou Luís Montenegro; dure ele dois ou mais anos à frente do partido.

Passo a explicar porquê: os últimos anos têm sido marcados por apaixonados (mas não apaixonantes) debates sobre temas tão variados como a exclusão e a inclusão de género nos comportamentos humanos; a “possibilidade” da gradivez não ser um exclusivo das mulheres, além do uso do próprio termo “mulheres”; passando pelo papel das estátuas no passado colonialista português; ou ainda o policiamento da linguagem, entre outros.
Em suma, temas fascinantes que atraem algumas centenas, senão mesmo milhares delikes, retweets e shares, mas que não existem fora do online environment. Temas que fazem aumentar a lista de seguidores – qual reality show voyeurism – mas que não dão votos nem fazem ganhar eleições. No fundo, temas que tal como alguns animais não sobrevivem fora do seu habitat natural. No caso, o Twitter.

Os tais temas “apaixonados mas não apaixonantes” servem sobretudo para tribalizar o debate público e produzir public online profiles, criando assim uma sensação de divisão da sociedade. Nada mais artificial.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A última polémica apaixonada mas não apaixonante – é provável que já tenha sido ultrapassada quando este texto for publicado – envolve Sérgio Sousa Pinto (haverá alguém fora da “bolha” que saiba quem é o SSP?) e os seus comentários sobre qual deve ser a velocidade permitida em Lisboa: de um lado as pedras e os gritos do horror, do outro as lágrimas e o rasgar das vestes perante um mártir a ser queimado no altar do politicamente correcto. Adiante.

Este artificialismo, amplificado pelas redes sociais – e por alguma comunicação social faminta de subscribers – serve apenas dois interessados: o PS e o Chega.

Em Espanha não é infelizmente diferente. A este propósito recordo a frase de Alberto Núñez Feijóo no encerramento do Congresso do PP de Madrid do passado fim de semana: “el Gobierno de Sánchez está diseñado para politizar en Twitter, lucir fotos en Instagram o generar debates artificiales en las tertulias”.

Ora, perante o barulho e a violência dos tweets, o PSD só tem a ganhar se ignorar, desvalorizando, os tais temas apaixonados mas não apaixonantes, e com isso aparecer (e parecer) ao eleitorado como a “terceira via” pragmática, séria, confiável, credível e reformista.

Segundo dados do Eurostat de Março de 2022, Portugal é hoje o sétimo país mais pobre da UE. Em bom rigor, desde que António Costa e o PS chegaram a São Bento, o nosso país foi ultrapassado pela Estónia, pela Letónia, pela Hungria e pela Polónia.

A inflação está pelas nuvens do inferno e a dívida pública, segundos dados da OCDE, atingiu os 145% do PIB em 2021. Somos hoje o sexto país mais endividado da OCDE.

Um país pouco atrativo para os nacionais – que continuam a emigrar aos milhares – e nada convidativo para os estrangeiros. Somos hoje um passive actor da economia globalizada que se limita a atrair call centres e shared service centres que fazem as capas do dia e as “alegrias” do Ministro(a) da Economia do momento, mas que se limitam a criar exércitos de precários remunerados com salários mínimos isentos ou quase isentos de IRS.

Um passive actor com um Governo, que aqui e ali vai falando da “economia do conhecimento”, mas onde as receitas da propriedade intelectual não vão além de uns míseros 0,1% do comércio externo nacional – quando países Europeus francamente mais pequenos como Malta têm 28 vezes mais (segundos dados de Abril de 2022 da WIPO – World Intellectual Property Organization).

Urge portanto uma alternativa ao Partido Socialista e, para começar, não me parece que a mesma se construa com propostas de aumentos salariais de 4% (ou mais) para a Função Pública, como propõem os dois candidatos à liderança do PSD – parece que já nos esquecemos do episódio da tentativa de reposição condicionada do tempo integral dos professores proposta pelo PSD e CDS e pela ameaça de demissão de um António Costa versão “bom aluno”.

Ora, o goodwill do PSD define-se pela percepção que dos eleitores têm de que se trata de um partido responsável, reformista e de contas certas. Não “cumprir” com isto seria confundir os eleitores e com isso arriscar-se a perder (ainda mais) votos para o PS.

Tudo isto e mais deve servir de pretexto, contexto e starting point para o discurso e mensagem do próximo Presidente do PSD. Alguém que vá para lá da espuma das horas e que não se dedique à política reactiva. Alguém que marque a agenda não pela forma ou pelos decibéis, mas pela substância e força das ideias.

El nuevo PP” já percebeu isso e também por isso lidera hoje todas as sondagens para as Generales de 2023, quando em Fevereiro não passava de terceira força política atrás do PSOE e do Vox.

A bem da democracia e da saudável alternância partidária é fundamental que o PSD se foque no essencial, refresque os protagonistas e devolva o sonho e a esperança a todo um eleitorado órfão de um projecto de centro-direita liberal para o País. Eu – que estou há mais de um mês à espera que o PSD aceite a minha ficha de filiação (definitely not a good start) – acredito que o Jorge Moreira da Silva representa essa mudança e garante, como tantas vezes tem dito, o “Direito ao Futuro”.