“Vinte e cinco toneladas de vida antiga fossilizada, é o custo pago pela natureza, por cada litro de petróleo usado pelo homem.”

O professor Jeffrey Dukes, da Universidade de Utah nos Estados Unidos, formulou uma equação para avaliar o custo no uso dos recursos fósseis. Esta equação parte da observação de que todo o carbono e hidrogénio presentes nos combustíveis fósseis são concentrados pela ação da energia solar, absorvida por plantas de tempos passados. Ao calcular a eficácia da preservação da matéria vegetal em sedimentos, a conversão dessa matéria em combustíveis fósseis e a eficiência da extração desses combustíveis, chegou-se a uma conclusão alarmante: são necessárias aproximadamente 100 toneladas de matéria vegetal fossilizada para produzir 4 litros de petróleo.

Face à enorme quantidade de luz solar necessária para o crescimento de 100 toneladas de matéria vegetal e ao ritmo alarmante com que temos consumido petróleo, carvão e gás, não é surpreendente que, a cada ano da nossa era industrial, tenhamos necessitado do equivalente a vários séculos de energia solar para os processos sofisticados de fossilização, a fim de manter a economia em funcionamento.

Os combustíveis fósseis; petróleo, carvão e gás, são tudo o que resta dos organismos que há muitos milhões de anos capturaram o carbono da atmosfera. Quando queimamos madeira libertamos carbono que tem estado fora da circulação atmosférica há umas décadas apenas, mas quando queimamos combustíveis fósseis o carbono que libertamos está fora de circulação há eternidades. Desenterrar os mortos desta maneira é uma conduta particularmente nefasta por parte dos vivos e para os vivos: nós, os humanos.

Em 2019, a queima de combustíveis fósseis libertou aproximadamente 36,8 mil milhões de toneladas de CO2 na atmosfera em todo o mundo, com o carvão contribuindo com cerca de 40%, o petróleo com aproximadamente 37%, e o gás natural com cerca de 23%. Estas, não refletem as emissões de CO2 provenientes de cada uma dessas fontes, considerando que alguns combustíveis contêm mais carbono do que outros.

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A energia que libertamos quando queimamos esses combustíveis provém do carbono e do hidrogénio. Como o carbono é o principal elemento, na origem das alterações climáticas, quanto mais rico em carbono for o combustível, maior o perigo para o futuro da humanidade e do planeta. O melhor carvão, o designado carvão negro, é praticamente carbono puro.

Os combustíveis derivados do petróleo são compostos principalmente por hidrocarbonetos, que contêm uma alta proporção de átomos de carbono em relação aos de hidrogénio. Embora o hidrogénio seja uma fonte de energia mais eficiente quando queimado, produzindo mais calor por unidade de massa do que o carbono, a queima de petróleo ainda liberta dióxido de carbono (CO2) para a atmosfera, contribuindo para as emissões de gases de efeito estufa e outras questões ambientais, de maneira semelhante à queima de carvão.

A eficiência energética na queima de combustíveis desempenha um papel crucial na quantidade de CO2 libertada. Apesar dos avanços tecnológicos nas centrais termoelétricas movidas a carvão, a queima de antracite para geração de energia elétrica resulta em emissões de CO2 cerca de 60% maiores do que a queima de metano, enquanto a lignite produz emissões até 130% superiores. Ambos os tipos de carvão são comummente utilizados nessas centrais termoelétricas.

Essa disparidade evidencia uma significativa diferença ambiental entre a queima de gás e de carvão para alimentar uma economia, embora ambos representem desafios em relação às alterações climáticas. O carvão, especialmente, destaca-se por ser o combustível fóssil mais abundante e amplamente distribuído no planeta. Compreender as fases iniciais do processo de formação do carvão, assim como dos outros dois principais combustíveis fósseis utilizados, o gás natural e o petróleo, é essencial para uma análise mais abrangente do impacto ambiental dessas fontes energéticas.

Quando o século XX começou, o mundo tinha pouco mais de 1 mil milhões de habitantes. Ao seu término, éramos 6 mil milhões, com a parte do chamado primeiro mundo a consumir, em média, quatro vezes mais energia do que os seus antecessores cem anos antes. Este aumento populacional e no consumo energético per capita, em grande parte do planeta, para satisfazer uma sociedade ávida por modernidade, explica o motivo pelo qual a queima de combustíveis fósseis aumentou 16 vezes nesse período.

Em 1986, a humanidade atingiu um ponto em que o consumo excedeu a capacidade da Terra em suportar os recursos que dela retiramos. Desde então, temos vindo a gerir, em termos ambientais, um défice orçamental todos os anos, esgotando progressivamente essas reservas. Este consumo manifesta-se na sobre-exploração dos pastos até se tornarem desertos, na destruição das florestas, na pesca excessiva e na poluição dos oceanos e da atmosfera, o que resultou numa série de problemas ambientais que enfrentamos atualmente.

Até à data, o aquecimento global foi inferior a 0,70 ºC desde o início da revolução industrial, sendo o aumento do dióxido de carbono na atmosfera a principal causa. A maior parte do aumento na queima de combustíveis ocorreu nas últimas décadas, com nove dos dez anos mais quentes registados desde 1990. Como esse aumento de temperatura, que ainda não atinge os 0,70°C, afetou e como afetará a vida na Terra um aumento superior a esse valor? De acordo com os dados atuais, todos concordam que estamos fora da trajetória desejável para evitar o tão temido aumento de 2°C na temperatura. Será que estamos preparados para enfrentar as consequências?