Na primeira entrevista do empossado para o recém-criado cargo de Diretor Executivo do SNS, o Prof. Doutor Fernando Araújo, falou, e bem, sobre alguns dos principais problemas atuais e do futuro próximo do SNS, apontando caminhos e as possíveis soluções que, cumulativamente, irão ser implementadas, mês após mês, para os resolver.

Naturalmente, ninguém esperaria uma resolução imediata.

E, para satisfação de muitos, as soluções apontadas passarão por envolvimento dos profissionais de saúde, melhoria das suas condições de trabalho, contratação de mais profissionais, revisão do tema quasi-tabu das equipas tipo definidas pela Ordem dos Médicos para as urgências, nomeadamente de Obstetrícia, e por melhor planeamento e integração de todos os intervenientes (Cuidados de Saúde Primários, Hospitalares, Continuados, INEM, etc.), num SNS que, no seu conjunto, se pretende mais eficiente, e com mais garantia de acesso para todos, funcionando verdadeiramente em rede entre diferentes níveis e/ou entre o mesmo nível de cuidados.

Sendo um reconhecido defensor da valorização do mérito dos elementos das administrações de saúde, conforme consta do seu artigo de opinião publicado a 12 de julho do corrente ano no Jornal de Noticias, onde afirma que “…Independentemente do princípio, do qual penso ninguém discordará (valorizar a qualificação do exercício de gestão, que se poderá traduzir em melhores cuidados de saúde) a questão que se coloca é se faz sentido no tempo, no modo e na forma….”, a propósito da atribuição de um prémio de gestão, que considerou inoportuno, espera-se que, agora, finalmente, esses princípios (de que “ninguém discordará”) de escolher os mais capazes para os diversos cargos de liderança, possam ser colocados, rapidamente, em prática.

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No entanto, curiosamente, na supracitada entrevista, a ideia apresentada é de “qualificar as lideranças”.

A “qualificação das lideranças” (na Saúde) não é um tema novo, tendo proliferado nos últimos 20 anos as diversas formações que, curricularmente, parecem cumprir esse desígnio: são dezenas os Cursos de Pós-graduação e/ou Mestrado de Gestão em Saúde, de Administração Hospitalar ou, até, de Doutoramentos nessas matérias… E muitos dos atuais altos dirigentes da saúde já os têm… por vezes até mais do que um desses… sem que os resultados tenham mudado muito ou satisfaçam…

Talvez o problema esteja na dificuldade em reconhecer que a Gestão é uma área de conhecimento e de competência específicos, com identidade académica e científica e consequente aplicação prática, não se coadunando a Gestão em Saúde com a formação “apressada” de uma Pós-graduação ou Mestrado (compare-se o número de horas de disciplinas básicas ministradas em uma licenciatura em Gestão com as de uma qualquer destas pós-graduações)… Tal como não seria adequado ter um (pseudo)Médico a tratar doentes que tivesse obtido essa “qualificação” por via de uma qualquer formação pós-graduada em Medicina…após uma licenciatura em engenharia, turismo, economia ou qualquer outra.

Mais do que “qualificar as lideranças”, é fundamental selecionar as “lideranças qualificadas” para os cargos.

Parece semelhante, mas não é. É o mesmo que confundir Manuel Germano com Género Humano.