Para escolher de entre dois males, o mal menor, é preciso discernimento. E capacidade de decisão rápida e sem hesitações. E que esta não seja subalternizada por interesses político-partidários e até mesmo à revelia destes. Todas as decisões, mesmo as boas decisões, têm custos.

Em três dias atingimos os trinta mil casos de infecção para além de um triste recorde de mortes. Não sabemos se estamos a viver as consequências de um Natal mais aberto, e que salvaguardou de alguma forma a nossa saúde mental quando nos libertou das constrições e saudades de meses, se a mutação britânica do vírus fez disparar os números. Não sabemos. Mas olhamos em volta porque aprender também é mimetizar. Temos excelentes exemplos, exemplos disfuncionais, ou de meio termo. E paramos para juntar aos exemplos as circunstâncias: a nossa proverbial pobreza entre os países ricos, o frio que nos atinge em cheio como se fossemos nórdicos, o aumento de mais de 13% do número de mortes não Covid face a anos anteriores, a extinção das pequenas empresas, as moratórias e o endividamento das famílias. E acima de tudo isto, a saturação da capacidade dos serviços de saúde.

Na segunda-feira, dia 4, Israel atingiu os 8000 infectados. As regras do confinamento foram imediatamente alteradas e adequadas, e entraram em vigor na quinta-feira, dia 7. O confinamento tornou-se ainda mais restritivo: foram proibidas as deslocações com distância superior a um quilómetro da residência; foram encerrados todos os serviços não essenciais e escolas excepto as de ensino especial; as reuniões no exterior têm um número não superior a dez pessoas e no interior cinco. Isto num país, tal como o nosso, com pouco mais de nove milhões de habitantes,  que já vacinou 17% da sua população, estima atingir a imunidade de grupo em Março ou Abril, e cujos centros de vacinação funcionam vinte e quatro horas por dia. O mesmo país que comprou as vacinas ao triplo do preço da Europa por ter feito contas simples: comprar mais caro sai mais barato porque a retoma da economia será mais rápida.

É preciso fechar. Conter. Criar um tampão que permita que os serviços de saúde se aguentem. Mas também é preciso que o confinamento seja planeado, lado a lado com a vacinação, no respeito pela equidade europeia na distribuição das vacinas. Um confinamento auto-limitado no tempo, num jogo de abre e fecha e com apoios económicos e sociais imediatos e efectivos para que a asfixia económica não seja mortal. É preciso consistência: não se fecham empresas para abrir escolas.

Os números apresentados sem qualquer alarmismo por Henrique Oliveira, matemático e professor do Instituto Superior Técnico, no Expresso de ontem, obrigam-nos à decisão. Os números de mortes são proporcionais ao número de infectados: se os segundos sobem, os primeiros também.

É preciso fechar hoje para não morrer no fim do mês.

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