Esta é, entre muitas outras, uma questão antiga na gestão de cada um de nós, em particular em contexto profissional. A famosa frase atribuída à rainha má (madrasta?) da historinha (fábula) da Branca de Neve deve, portanto, dizer-te muito sobre a tua relação com o famoso espelho ou, melhor, a forma como te posicionas em contexto profissional.

Uma coisa é certa: nenhum conto de fadas é absolutamente inofensivo, pelo contrário, estão usualmente imbuídos de um teor doutrinário e até moral. E há, portanto, uma moral nesta pergunta.

Dotando a questão de alguma cientificidade e aplicabilidade empresarial, e reformulando-a via Kaplan, por reprodução do título do seu artigo de 2007 na Harvard Business Review, então ela passará a What to ask the person in the mirror? E talvez seja esta, de facto, a verdadeira questão para o teu espelho. O que deves perguntar à pessoa que vês no espelho?

Perguntar implica não necessariamente que tenhas as respostas do espelho porque dele não sairão. Mas, antes, porque tens de fazer as perguntas para que de ti próprio (não do espelho) possam sair respostas efetivas e que importem aos outros, e consequentemente a ti, no contexto organizacional/profissional. As questões far-te-ão pensar sobretudo sobre o que fazes pelos outros, o que determinará, em última instância, o que fazes por ti mesmo.

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Kaplan, novamente, esse mesmo que esteve na origem do Balanced Scorecard, deixa-te algumas questões, sete para ser preciso, e que são fundamentais para a tua vida nas empresas e organizações e que devem encontrar em ti eco para uma melhor performance e acréscimo de valor. Reescrevo-as e reinterpreto-as:

  1. Quão frequentemente comunicas com outros incorporando a visão e as prioridades do negócio para ires ao encontro da visão (partilhada, supostamente) sobre o mesmo?
  2. De que forma o dispêndio do teu tempo está alinhado com as prioridades chave da tua área, departamento, unidade de negócio ou empresa?
  3. Dás feedback direto aos outros, liderados ou não por ti, de forma que possam fazer alguma coisa útil com ele?
  4. Estás a conseguir identificar potenciais sucessores para os vários lugares e inclusive para o teu?
  5. Estás a pensar nas necessidades de mudança do negócio para irem ao encontro das novas prioridades da empresa/organização?
  6. Como estás a agir debaixo de pressão e sempre que o trabalho parece infindável e o tempo escasseia?
  7. O teu estilo de liderança, começando pela liderança de ti próprio (e mesmo que não tenhas equipa), transmite o que realmente és enquanto pessoa?

Estas questões parecem simples. A sua resposta é, porém, complexa. E levantam alguns temas-chave de que te deves dar conta na tua vida profissional nas organizações.

Que mais não seja porque tens de conhecer e/ou pedir para ser construída, com a tua participação, uma visão para o negócio, porque tens de fazer uma avaliação da energia que despendes em cada tarefa, porque tens de dar feedback e pugnar por que te seja dado, porque a organização depende igualmente do teu contributo para poderes fazê-la crescer, e substituir-te, se esse for o melhor caminho, porque tens de conhecer as cambiantes e trajeto que tens de fazer para haver um fit entre organização e contexto mutável, porque tens de conseguir fazer uma avaliação da tua gestão sob a pressão a que estás sujeito e porque dependes da verdade, e deves-te a verdade, para te gerires a ti próprio.

Podes perguntar ao espelho tudo isto. Deves. Porque só das reiteradas questões poderás começar a acertar o passo com o valor que deves aportar à empresa/organização em que te inseres. Que tens de aportar à empresa (é mandatório que o faças). Porque uma das piores coisas que te pode acontecer é sentires-te entitled para com a organização em que trabalhas.

Porquê? Porque quando te sentes entitled o espelho apenas te responderá que não há ninguém mais belo que tu. E isso é apenas uma forma de viveres uma mentira. E não contribuis em nada nem deixas que outros contribuam para o processo de criação de valor. O resultado será, quase sempre, saltares de empresa em empresa e de frustração em frustração porque te achas com direitos superiores às tuas entregas. Sinal de que o espelho não funciona mesmo. E de que as questões não estão a ser feitas e muito menos a teres respostas para elas. O som é monocórdico e desinteressante (és só mais uma “madrasta”): apenas eco do teu alter ego!