Eis que estamos a entrar naquela época que acontece de quatro em quatro anos, onde se torna impossível circular dentro do nosso país tanto é o buraco causado pelas obras de ocasião, obviamente patrocinadas pelo município de cada zona.

E porque é que isto acontece? Aqui a resposta é óbvia, porque funciona para manter os atuais executivos autárquicos no poder. Porque funciona como publicidade paga pelo contribuinte. Porque existem competências básicas dos municípios que são descuradas durante quatro anos sem que a população seja ouvida sobre as mesmas.

Julgo que isto é reflexo da atual moral de um povo que passou a acreditar que nada há mais a fazer. Que não podemos ambicionar a nada melhor. Que pensar diferente disto é irrealista.

O mesmo povo que vive de salário em salário, com poucas ou nenhumas perspetivas de progressão económica. O corolário de tudo isto, é que Portugal é atualmente um sítio onde ficamos todos contentes quando algumas funções essenciais do Estado funcionam (quando somos vacinados, quando recebemos o reembolso do IRS, quando o autocarro aparece…).

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Em jeito de provocação, somos um povo que vende o seu voto muito barato. Fossemos tão eloquentes com o poder político como quando estamos na fila no supermercado e nos passam à frente e teríamos um país muito melhor. Um país onde nunca deixaríamos que nos reparassem os buracos da estrada de quatro em quatro anos e muito menos que nos mantivessem presos a condições de vida estagnadas, durante décadas, devido à crescente carga de impostos.

Existe forma de fazer melhor, mas para isso temos de deixar de fazer o que sempre temos feito. Temos de nos envolver, fazer-nos ouvir e exigir que sejam implementadas formas diferentes de resolver os problemas.

Uma das definições de insanidade é “esperar resultados diferentes quando repetidamente fazemos a mesma coisa”. Está na altura de pensar e fazer diferente, e para isso, é necessário que as competências essenciais dos municípios sejam desempenhadas de forma irrepreensível durante todo o ano (manutenção das infraestruturas, serviços prestados com tempos de resposta conhecidos e limitados…).

Mas só isto não é suficiente, uma vez que a função de um município é também promover o crescimento económico à sua escala e, para isso, é preciso um agressivo programa de despenalização de impostos, de forma a que o dinheiro fique no bolso das pessoas e das empresas. Porque são as pessoas as que melhor podem decidir sobre a forma como querem utilizar o esforço do seu trabalho e não o Estado.

Para tudo isto é essencial que todo o folclore autárquico atual tenha os dias contados, para reduzir despesa municipal paga por todos nós. Por exemplo, acabando com as inúmeras empresas municipais, com benefícios duvidosos, ou que simplesmente funcionam como máquinas de emprego para os boys das estruturas partidárias. É preciso que o município deixe de entrar em competição com a sociedade na prestação de serviços, que o faz sempre pago pelo contribuinte, mas mascarado de “gratuito”.

É altura de exigir mais. É altura de percebemos que nos estão a passar à frente na fila do supermercado, mas que neste caso se trata da nossa vida.