Em Espanha, no próximo dia 26 de maio, além de ser o dia das eleições europeias, haverá também eleições municipais e autonómicas. E, como não podia deixar de ser, a grande polémica está instalada em Barcelona, não tanto pelos partidos independentistas que procuram obter a maioria absoluta, mas, sim, pela escolha do franco-espanhol Manuel Valls, como candidato à Câmara (Alcadia) daquela cidade, apadrinhado por Albert Rivera, líder do partido Ciudadanos.

Manuel Valls nasceu em Barcelona em 1962, mas toda a sua trajetória educacional, cultural, familiar e política foi feita em França, ligado ao socialismo local, primeiro como apoiante de Michel Rocard contra François Mitterrand, depois, à sombra da franco-maçonaria, como fiel servidor de Lionel Jospin, seguidamente como presidente da Câmara de Évry (arredores de Paris), por fim como deputado, ministro do interior e primeiro-ministro de François Hollande, sem esquecer as primárias de 2017, que perdeu para o seu correligionário de partido Benoît Hamon.

Hoje, sem qualquer credibilidade política em França, Manuel Valls formou o Partido Barcelona pel Canvi (Barcelona pela Mudança) e aliou-se aos Ciudadanos, prometendo, como não podia deixar de ser, resolver os problemas da pobreza, do desemprego, da falta de segurança, etc., etc. Numa palavra: tal como nos seus anos de socialista francês, Manuel Valls apresenta-se hoje aos catalães como alguém que oferece soluções simples para problemas complexos. E, como político que se preza, desde logo em inúmeras entrevistas à comunicação social, fez as habituais juras de amor a Espanha, e proclamou aos sete ventos o seu patriotismo inquebrantável.

É, sem dúvida, por causa destas e de outras condutas oportunistas que a imagem da política se encontra em queda livre por toda a Europa e, como é óbvio, alimenta a propagação de partidos populistas sejam eles de extrema-direita ou de extrema-esquerda.

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Vivemos tempos em que os partidos do sistema, sem exceção, necessitam de angariar figuras mediáticas e controversas para formarem candidaturas atrativas. Assim como os clubes de futebol procuram no mercado mundial os seus craques, os partidos seguem o mesmo caminho, fazendo o mesmo.

Depois, o coitado do cidadão é diariamente bombardeado com comentários destes figurões que tudo sabem, desde o futebol à justiça, passando pelas dificuldades que sente o Sr. Armindo em vender galos de Barcelos aos turistas chineses…

Esta politiquice da mentira e da manipulação da realidade constituirá, porventura, o maior problema das democracias, as quais, a pouco e pouco, vão afastando as pessoas das urnas e, por conseguinte, da escolha dos seus representantes.

O político não pode (nem deve) transformar-se no figurão oportunista do género Manuel Valls, um amoral e sem-pátria, para o qual tudo é possível. Ser-se ministro em França, autarca em Espanha  ou em Portugal só pode conduzir à derrocada da Europa.

A raiz do problema encontra-se no normativo da união Europeia vindo do Tratado de Maastrich que impos a diretiva 93/109/CEE de 6 de dezembro de 1993 que possibilitou aos cidadãos membros da União Europeia candidatarem a eleições autarcas sem qualquer restrição ou impedimentos, consentindo escandalosamente situações como a de  Manuel Valls. Simultaneamente na facilidade com que, a partir de meados da década de 80, se começou a distribuir nacionalidades mesmo, independentemente da origem de quem as pedia.

Os resultados não se fizeram esperar: num breve lapso de tempo, surgiram larguíssimos milhares de pessoas que, atualmente, dispõem de duas ou três nacionalidades por obra e graça daquilo a que convencionou chamar-se engenharia jurídica. Esta confusão de gente que acumula nacionalidades para ter acesso mais facilitado a negócios nos diferentes países transformou a história, os costumes, o idioma, os modos de vida e o patriotismo em algo ultrapassado e indigno de respeito. Por isso se assiste, por toda a Europa, à emergência de partidos populistas.

Ignoro quando se irá pôr um travão a esta oferta de nacionalidades, e de clientelismo politico transeuropeu, mas sei que merecemos melhores políticos e não gente sem ética e sem pátria. Nem tudo vale na política.

Sócio Partner na Dantas Rodrigues & Associados