Numa semana em que o Presidente Francês Emmanuel Macron e a Presidente da Comissão Europeia Ursula Von der Leyen foram à China, ficaram de novo expostos os principais desafios da relação entre a Europa (e o Ocidente) e a China.

Contrariamente à Rússia, que era economicamente muito frágil já antes da guerra e profundamente dependente dos países que compravam o seu gás e petróleo, a China quer tornar-se uma grande potência global, e não está inteiramente fora do seu alcance fazê-lo, embora tenha limitações relevantes relacionadas com a aproximação do inverno demográfico e a ausência de reformas económicas, como já escrevi no passado.

Ainda assim, a dependência da Europa e dos Estados Unidos face à China é muito mais alargada do que no caso da Rússia, em que essa relação se limitava fundamentalmente a dois ou três tipos de bens, muito importantes, mas passíveis de serem substituídos.

A abertura da China ao mundo não se limita à exportação de bens, mas estende-se também ao investimento no estrangeiro. Os fluxos de investimento direto da China, segundo dados do think tank Mercator, baseados em dados oficiais chineses, atingiram um pico de 180 mil milhões de dólares em 2016, descendo nos anos seguintes para valores próximos de 120 mil milhões. Apesar de a fase de expansão de investimento direto no exterior ter abrandado devido a um maior controlo de capitais nos últimos anos e à pandemia, o stock de investimentos da China na Europa é considerável. Por exemplo, em Portugal, em 2021 superava 3% do PIB nacional.

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A China tem também continuado a apostar nos investimentos em extração e processamento de matérias-primas raras, cruciais para o desenvolvimento das energias renováveis. Os dados da Agência Internacional de Energia mostram que a China lidera a produção de baterias para veículos elétricos, com perto de 80% da produção mundial.

Por outro lado, a China depende da Europa para produtos alimentares.

A estratégia da União Europeia, redefinida antes da viagem à China pela Presidente Von der Leyen como “de-risking”, isto é manter áreas de cooperação enquanto reduz a dependência económica de certas matérias-primas como o lítio e de bens como os semicondutores, exige um equilíbrio muito difícil e que não será necessariamente aceite pela China. Para além do mais, a posição da Comissão Europeia não é necessariamente igual à dos Estados-membros. As visitas desta semana mostraram que o presidente Macron estava bastante mais otimista relativamente à relação futura com a China do que a Presidente Von der Leyen, e isto será provavelmente verdade para vários Estados-Membros, designadamente os que têm investimentos chineses mais importantes.

A guerra da Rússia intensificou a tendência de autossuficiência na Europa e nos Estados-Unidos. Mas nas relações com a China, mais alargadas e complexas, reduzir a dependência económica será consideravelmente mais difícil e os custos associados mais elevados.