O Chat GPT descreve, sem papas na língua e alguma candura, o general Agostinho Costa, (já fora do activo) como “um militar comunista, conhecido pela sua dedicação aos princípios e ideologia do comunismo”.

Não sei se é, embora suspeite, até porque lhe conheço algumas peripécias, mas é verdade que os órfãos da URSS têm andado remoçados desde o início da invasão da Ucrânia e demonstram galhardamente o seu júbilo pelo aparente regresso de alguns calores do “sol do mundo”.

A criatura, presença habitual na CNN Portugal, tem sido, reconheça-se, coerente e recorrente.

Coerente porque nunca permitiu que a realidade o desviasse um milímetro da fiel regurgitação dos tópicos produzidos em Moscovo sobre o conflito na Ucrânia.

Recorrente porque tem feito isso mesmo desde o dia em que a CNN, alegadamente uma das mais importantes marcas de comunicação social, o qualificou como “especialista de segurança” e lhe meteu à frente a trombeta que lhe tem permitido tornar públicas, não só a fiel propaganda do Kremlin, mas também as opiniões desvairadas que passam benzinho numa conversa de bar entre dois finos e um prato de tremoços, mas menos bem num órgão de comunicação social que se reclama de ser objectivo, profundo, intelectualmente honesto e suficientemente imparcial. Ou nem isso, mas do qual se espera, no mínimo, que não trate os espectadores como tolinhos ou meros consumidores de freak shows.

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Veja-se, por exemplo, um dos esotéricos diálogos na CNN (noite de 24 de Junho) entre um jornalista e o general:

Jornalista (J): Quando começaram os problemas entre o ministério russo da Defesa e o grupo Wagner, perguntei-lhe se havia ou não dissonâncias entre estes dois. E respondeu-me que «Isso são fantasias.» Enganou-se nesta análise?
General Agostinho Costa (GAC): Não. Uma coisa é o que parece. Outra coisa é o que é.
J: -Referiu que o grupo Wagner «é uma concepção de Guerasimov, é preciso ler a doutrina de guerra híbrida, e está a funcionar muito bem.» Está?
GAC: Está.
J: Isto tem aparência de normal funcionamento?
GAC: Reitero tudo quanto disse. Reitero tudo quanto disse.
J: Também referiu aqui que «o grupo Wagner corresponde, na Rússia, às forças especiais norte-americanas, é mais ou menos a mesma coisa». Arrepende-se de comparar o grupo Wagner a exércitos regulares?
GAC: De maneira nenhuma!
J: O Wagner não é uma força regular.
GAC: É uma força especial de assalto. As forças de assalto têm várias missões.
J: Há ou não, nestas últimas 24 horas, um dano reputacional para Vladimir Putin, bastante visível à própria opinião pública russa?
GAC: Não o acompanho, não o acompanho.

Como  se nota, quando é apanhado em flagrante contradição, coisa que acontece praticamente a toda a hora, o general remete-se ao vademecum da propaganda e segue a táctica consagrada de Álvaro Cunhal, no célebre argumento do “olhe que não, olhe que não”.

Recordemos que este general tem consistentemente proferido mentiras, lorotas, previsões, análises, opiniões, também consistentemente refutadas pela realidade dos factos, como por exemplo:

  • “Os russos já estão em Kiev” (não estavam, nunca estiveram).
  • “Os russos só não tomaram Kiev porque não tiveram essa ordem”. (presume-se que aquela enorme coluna russa a caminho de Kiev, se enganou no caminho ou ia apenas para tomar um café).
  • “O PIB da Ucrânia é o último da Europa” (não é).
  • “Vem aí a Grande Ofensiva russa” (não veio).
  • “A informação que tenho é que os russos estão em Kharkiv” (não estavam).
  • “Os russos retiraram (de Kherson e Kharkiv) como gesto de boa vontade” (na verdade fugiram).
  • “A Rússia já destruiu 2 exércitos ucranianos” (e, provavelmente, segundo as hiperbólicas fontes siberianas do general, 8000 HIMARS, 200.000 carros de combate, 3 milhões de aviões, etc.).
  • “A Rússia não ataca alvos civis, trata-se de falhas operacionais, estas coisas acontecem” (As cidades reduzidas a escombros, os massacres comprovados, não bastam ao general para concluir o óbvio).
  • “A NATO é um heterónimo dos Estados Unidos, o resto é paisagem” (slogan habitual do PCP e do BE, que o general evitou prudentemente proferir enquanto elemento da “paisagem”, na sua carreira militar).
  • “A Europa está a lançar gasolina no conflito” e “não deveriam ser enviadas armas para a Ucrânia” (para o general, como para a Rússia, espantosa coincidência, existe conflito porque a Ucrânia não se rende e a Europa ajuda-a a defender-se).
  • “O ministro Sergei Shoigu é um homem “de barba rija” (o que não o impediu de fugir de Rostov há dias, quando Prigozhin ocupou a cidade).
  • “Putin é um genial jogador de xadrez” (disse-o sem se rir, o que coloca sérias dúvidas sobre a capacidade do general, de distinguir um peão de uma rainha).
  • “Nesta guerra não há bons, há interesses” (neste interessante exercício relativista o general não especificou os seus, quiçá interessantes, interesses).
  • “Ainda é cedo, sinceramente, para considerarmos que algo falhou” os russos, para o general, nunca falham, e quando falham é porque ainda é, “sinceramente”, cedo).
  • “Os chechenos são uma invenção ucraniana” (se o general diz, não há chechenos, nunca ninguém viu nenhum, a lua não existe, e a realidade é de geometria variável).
  • “Zelensky já não estará em Kiev” (tese posta a circular pelo Kremlin, que o general logo engoliu sem mastigar e regurgitou sem digerir, como de resto vem fazendo por estes dias a propósito da revolta do Grupo Wagner).
  • “Vem aí a terceira guerra mundial”, etc., etc. (e neste etc. cabe um extensíssimo rol de falsidades, palermices, hipérboles, justificações, afirmações decalcadas da propaganda russa, e um contínuo debitar do mais básico whataboutismo que tem como mafarricos residentes a NATO, o Ocidente e os EUA).
  • “A ameaça nuclear faz parte da equação. Se a França fosse novamente invadida como foi em 1940, não há dúvida de que Macron usaria armas nucleares.” (deduz-se da vertigem whataboutista do general, que no mundo paralelo onde parece pairar, foi a Ucrânia que invadiu a Rússia e não o contrário, como acontece neste nosso universo).

Ora o confronto entre estas afirmações e a realidade, mostra cartesianamente que o general Agostinho Costa tem um sério problema de credibilidade como “especialista de segurança” e enorme credibilidade como disseminador das lorotas da propaganda russa.

Face a esta evidência só há quatro possibilidades:

  1. O general acredita no que diz. Mas então, como é que um indivíduo intelectualmente incapaz de analisar objectivamente a realidade fora da bolha das suas crenças, chega a general no Exército Português? Que seria de esperar de um general assim, com mentalidade de fanático de claque futebolística, em combate efectivo? E como é que um indivíduo, que fez a sua carreira numa instituição militar de um país do Ocidente (a “paisagem”), membro da NATO, que rumina estas crenças negativas e delirantes sobre aquilo que era suposto defender, que veicula ostensivamente a propaganda dos inimigos declarados do grupo a que pertence, chega a general?
  1. O general não acredita no que diz e tem uma agenda pró-russa e antiocidental, como sugere a desbocada Inteligência Artificial. Mas então como é que um entusiasmado corifeu de ditadores e totalitários, não é filtrado numa instituição militar pertencente a um país democrático, aliado da NATO, e chega a general desse mesmo Exército?
  1. O general não acredita no que diz, mas foi contratado pela CNN como “advogado do diabo” para expor o contraditório. Se assim é, não está a cumprir bem o papel, porque um bom “promotor fidei” tem de produzir argumentos fortes, que não sejam claramente infirmados pelas evidências da realidade. E como é que chega a general no Exército Português, uma criatura tão incapaz de, no mínimo, analisar e entender o “outro” lado, atribuindo-lhe sempre estratosféricas e angelicais intenções e capacidades?
  1. O general não acredita no que diz, mas foi contratado como “cromo”, como figura congregadora de ódios e repulsas, como vilão necessário para aumentar as audiências. Se é o caso, está a cumprir razoavelmente o papel e merece a sua recompensa em minutos de fama, mas como é que o Exército Português leva a general alguém mais adequado ao papel de bufão e que mostra ser capaz de se aviltar sem qualquer problema de pele, usando e abusando de um discurso tartamudo, sarcástico, irritado, tortuoso e inconsequente, acompanhado por esgares cínicos, insinuações tabernícolas e refinada má educação, em certos momentos em que lhe foge o pé para o chinelo?

Isto para não referir (já agora refiro) o revelador uso do “nós” majestático. O general, como o saudoso Jardel, não se designa a si mesmo como “eu”. O Jardel dizia que o Jardel gostava de marcar golos. O general quando tenta expressar algo em que ele pensa (?), ou acredita, diz sempre que “nós” pensamos, “nós” acreditamos, as “nossas” fontes dizem, etc., etc. Ou seja, está um grau acima do Jardel, que apenas se referia a ele mesmo na terceira pessoa do singular. Para o Jardel, o Jardel era ele, mas lá fora. Para o general, ele é “nós”, sinal de que, ou se leva em muito boa conta, ou nem sequer se enxerga, ou as duas.

É isto um General do Exército Português?

A instituição livrou-se da constrangedora presença televisiva dos atarantados do PREC, que eram um enorme embaraço cada vez que lhe metiam um microfone à frente, e tem de suportar agora a segunda vaga de emplastros a fazer o mesmo, mas com esteroides?

Coronel “comando” ( fora do activo)