A Veronica do livro do escritor Paulo Coelho queria suicidar-se sem que os outros percebessem bem porquê. Esta semana uma outra Veronica suicidou-se e ainda estaremos para perceber porquê.

Veronica, a verdadeira não a de ficção, era uma espanhola de 32 anos, mãe de dois filhos de 4 anos e 9 meses, funcionária da Iveco perto de Madrid. Tinha começado cedo a trabalhar na linha de montagem e por ali tinha ficado. A vida de Veronica era a de muitas outras mulheres: casa, trabalho e família. Esta semana Veronica saiu da Iveco um par de horas mais cedo, foi para casa e enforcou-se.

Há uns anos Veronica teve um namorado, colega da mesma empresa, a quem enviou uns vídeos por whatsapp onde aparecia sozinha a auto-satisfazer-se. Quando a relação acabou, os vídeos foram enviados para um grupo de 20 funcionários da Iveco que enviaram a outros tantos e estes a mais outros tantos. Diz-se que mais de 80% dos 2500 funcionários da Iveco viu o vídeo. O fantasma do passado de Veronica que tinha ficado fechado lá longe voltou recentemente. Um colega despeitado ou um ex-namorado ressabiado. A polícia o descobrirá.

Os culpados serão exemplarmente punidos porque Espanha já teve o caso Olvido Hormigos. Pelo mundo fora há diversos casos com desfechos idênticos ao de Veronica. Lembro-me de Amanda Todd e a italiana Tiziana Cantane, por exemplo.

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Veronica sentia-se apontada: alguns colegas iam propositadamente ao seu departamento vê-la e mandar umas bocas. A gota de água foi a cunhada ter recebido o vídeo e o ter enviado ao Irmão, todos funcionários da Iveco. Ao que parece o marido de Veronica não reagiu nada bem.

A discussão aberta nas televisões e redes sociais espanholas está ao rubro. Há quem compare os trabalhadores da iveco com os violadores da manada; escrevem-se palavras de ordem; gritam-se “assassinos”; destroem-se carros de funcionários. Do outro lado agora ninguém viu nada, ninguém reenviou nada, ninguém apontou o dedo à maluca dos vídeos. Um toureiro culpa Veronica que se pôs a jeito e se devia dar ao respeito.

No fim a culpa ainda vai ser das tecnologias. Nunca das pessoas que (mal) as utilizam. Pobres crianças que ficaram sem mãe numa sociedade que pouco se importa em magoar o próximo e que replica todos os disparates nas redes sociais apenas para passar o tempo e se divertir.