Em anos eleitorais, existe em Portugal um curioso fenómeno “meteorológico cibernético”.

Uma “chuva” de suplementos e notícias “agenciadamente” alavancadas por imensas redes de cidades sustentáveis ou acessíveis, amigas ou educadoras, empoladas com “selos de qualidade” e “rankings à medida”, com que algumas autarquias se fazem cobrir de forma a tapar o sol com a peneira e mascarar o “carnaval” de inação e “inconseguimentos”!

Tem a sua piada, até resulta, em certa medida e durante algum tempo, em especial antes das eleições. Mas logo após as eleições… a realidade sobrepõe-se à ficção!

O poder local devia recorrer, impreterivelmente, a uma avaliação/monitorização imparcial, concreta, transparente e escrutinável das políticas públicas a todos os níveis, como a dimensão social, cultural, económica, empresarial e ambiental dos territórios.

Dever-se-iam financiar suplementos ou encartes para divulgar os sentimentos dos cidadãos face às vivências destas dimensões, isso sim! A imagem da realidade, a verdade sem maquilhagem, já não seria tão bonita quanto a deslumbrante rota das cerejeiras em flor da Serra da Gardunha, por exemplo, no Fundão!

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Vemos o abandono sentido pelos cidadãos dos territórios mais longínquos da urbe, constatamos a incapacidade de resolução de problemas diários dos cidadãos, observamos horrorizados a desgraça da recolha de resíduos sólidos urbanos, a água mais cara, o IMI mais alto em comparação com as cidades vizinhas. Anos e anos de reclamações, sem resposta notada ou sensível, sejam questões de ruído, de alcatroamento, o desvio das águas pluviais para os terrenos, deixando-os inutilizáveis, uma enxurrada de inépcias e inércias.

Não há bandeira de município amigo das famílias que salve as evidências, sentidas no território, pela comunidade.

Que futuro queremos da política local? Apenas intervenções mais ou menos injustificadas pela vontade de empreender obras de fachada por motivos de cariz político/eleitoral?

Uma política local não pode ser apenas sumidouro de fundos e criador de valetas que nada escoam!

Criar um sentimento de tratamento diferente para residentes e “reputados residentes” não é programa, é defeito de programação!

A dimensão da forma como se faz política a nível municipal é de uma importância extraordinária face às competências que têm vindo a ganhar através do Decreto-Lei n.º 77/84, revogado pela Lei n.º 75/2013. Hoje, como nunca, a dimensão municipal é determinante para o sucesso ou fracasso de muitos objetivos ou metas a nível nacional.

O Relatório Brundtland, apresentado pelas Nações Unidas em 1987, definiu, pela primeira vez, o conceito de desenvolvimento sustentável como um modelo de desenvolvimento que “responda às necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras darem resposta às suas próprias necessidades”.

O que verdadeiramente importa, mais do que criar suportes de marketing e canais de publicidade, é monitorizar, aquilatar, perceber o que temos e quão longe estamos da sustentabilidade efetiva. Aferir se estamos a dar respostas aos problemas reais dos nossos munícipes.

Não basta aderir aos pactos só para deles resultarem mais um post, mais uma notícia, mais uma parangona, mais um cartaz, mais um prémio comprado aqui ou ali.

Os municípios assumem um papel insubstituível na prossecução de um desenvolvimento sustentável. Desperdiçar meios, recursos e tempo em autopromoção e em distrações não contribui para a qualidade de vida no presente nem para a sustentabilidade no futuro.

Bom seria, que o próximo suplemento ou encarte das “pré-pré-campanhas autárquicas” em curso, nos revelasse qual o desenvolvimento dos serviços prestados, nomeadamente ambientais, sociais e económicos e culturais, tendo por base todos os moradores da nossa comunidade, e nos informasse de que forma estamos ou não a ameaçar a viabilidade dos sistemas naturais, urbanos e sociais.

Seria útil. Seria bem melhor utilização de dinheiros públicos. Mesmo!