Em Novembro de 2016 quando Donald Trump foi surpreendentemente eleito Presidente dos Estados Unidos da América, foram muitas as vozes que vaticinaram o regresso dos falcões do Pentágono e dos magnatas do petróleo, com o regresso de com política internacional americana centrada na segurança de abastecimento de energia e mais especificamente dos hidrocarbonetos. Passados mais de três anos, desde esse fatídico dia de Novembro, nada mais afastado da realidade poderia ter acontecido.

Para além dos desastres ocorridos na Síria e na Líbia – com muita responsabilidade dos países europeus na inaudita calamidade humanitária – a administração Trump continua a somar derrotas em cima de derrotas, sendo um denominador comum a perda de influência e a consequente diminuição da segurança no abastecimento de energia no ocidente. A par disto soma-se o isolamento internacional ao nível das alterações climáticas, com o abandono do Acordo de Paris, sem que, em alternativa, fosse apresentado um qualquer outro caminho, deixando transparecer que a estratégia dominante é precisamente a falta de estratégia.

Exemplo do falhanço das políticas de segurança de abastecimento energético dos Estados Unidos, é a continua perda de influência na América do Sul, com avanço de muitas empresas chinesas a assumirem posições dominantes em alguns destes mercados. Como é o caso emblemático da Venezuela, em que a Rosneft, empresa detida pelo Estado Russo que iniciou a operação petrolífera nesse país, e em que agora, cada vez mais, surgem rumores de uma tomada de controlo da Petróleos de Venezuela, S.A (PDVSA) por parte da Rosneft, sendo importante referir que a Venezuela é o país com a maior reserva provada de petróleo crude do mundo com 302.809 milhões de barris, apenas ombreado pela Arábia Saudita, Irão, Canada, Iraque, Rússia, Kuwait e Emirados Árabes Unidos.

Mas as más noticias não ficam por aqui, o avanço do projecto da Nova Rota da Seda (ou Belt and Road Iniciative, BRI) que ligará China à Ásia Central e à Europa, por via de investimentos estratégicos em infra-estruturas, designadamente de energia, e que permitirá o acesso às enormes reservas de petróleo e gás natural que se localizam na Ásia Central e na área do Mar Cáspio, com especial relevo às localizadas no Turquemenistão.

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Lamentavelmente o desastre não fica por aqui, na Europa, o aliado histórico e natural dos Estados Unidos, os reveses estratégicos também se repetem, com a construção do projecto Nord Stream 2, que ligará a Rússia à Alemanha através do Mar Báltico. Recentemente foi conhecida a posição dos reguladores da França e de Espanha de considerarem como não prioritária a construção da ligação através dos Pirenéus denominada por South Transit East Pyrenees (STEP) (anteriormente “Midcat”). Este projecto, sempre acerrimamente defendido por Portugal, permitiria ligar o porto de Sines, ao centro da Europa, diversificando as fontes de acesso de energia, designadamente com o gás natural proveniente da América do Norte. Esta decisão foi recebida pelo Governo Português com um “encolher de ombros” assumindo-a como um mero facto consumado.

O conjunto de derrotas, no eixo do Atlântico, apenas parece confirmar a mudança do centro de gravidade na geopolítica internacional, o qual se vai deslocando para o extremo oriente e zona do Pacífico. Escusado será relembrar o que isto significa no desenvolvimento e crescimento económico na Europa e do possível impacto que irá ocorrer no grande projecto europeu.

Restará à Europa e à aliança atlantista aguardar por uma mudança do rumo político e estratégico, em Washington, e que possa relançar o desenvolvimento de um caminho que permita assegurar uma verdadeira segurança de abastecimento de energia e consequente capaz de assegurar as novas oportunidades criadas pela transição energética, em curso, na qual a Europa é líder e que tem dominado, e continuará a dominar, todos os eixos políticos na União Europeia.