Constatei com espanto e horror que, quase vinte cinco anos depois, continua a dar o Big Brother. Horror não por achar o programa mau, atenção. Aliás, na minha opinião, devia estar sempre no ar uma reposição do primeiro e inolvidável Big Brother. Não, o horror deve-se à constatação de que há vinte cinco anos o Zé Maria ganhou 100.000€ (na forma de 20.000 contos) e um carro. E que, um quarto de século depois, o vencedor do Big Brother irá para casa com a mesma maquia, não ajustada à inflação, e a pé. Está estupendo, este século XXI, está.

Mas o Big Brother lá resiste, ano após ano. Se é verdade que o Serviço Militar Obrigatório há muito terminou, tenho dúvidas se haverá algum adulto português que não tenha passado pelo recrutamento para participar no reality show. Nada contra. Era o que faltava, na véspera do 25 de Abril, insinuar que não deve haver liberdade para participar no Big Brother. Para mais quando há toda a liberdade para, por exemplo, participar em partidos leninistas, estalinistas, trotskistas e demais “istas”, que em comum nutrem aquele profundo apreço pela democracia.

A verdade é que, sendo amanhã 25 de Abril, é altura de celebrar uma das grandes conquistas deste dia: a possibilidade de fazer pouco de políticos sem temer qualquer consequência. Ou sem temer ir preso, pelo menos. Sem temer, tampouco, um espancamento da bófia. Com sorte, sem temer, sequer, uma inspecção das Finanças.

Vem isto a propósito de se assinalar neste 25 de Abril o 6.º aniversário da promessa do então primeiro-ministro, António Costa, de até ao 50.º aniversário da democracia portuguesa “garantir a todos os portugueses uma habitação adequada”. Não falhou por muito. Mas há algum problema no sector da habitação, é? Foi por um triz que Costa não acertou. Foi mais ou menos como se um atleta a competir no Campeonato Mundial de Dardos que se realiza em Londres (como sabem), ao fazer pontaria ao centro do alvo, acertasse numa vista de um aldeão samoano. Enquanto este fazia mergulho. Sem máscara, infelizmente. É assim que acontecem os acidentes.

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Por outro lado, não só António Costa saiu de cena a meses do 25 de Abril de 2024, como o 25 de Abril é só amanhã. Portanto, calma. Pode bem dar-se o caso de Costa ter construído milhares de fogos e os ter embrulhado e escondido no roupeiro do quarto, prontinhos para serem oferecidos aos portugueses já amanhã. Pelo sim, pelo não, esperem sentados. Eu ia dizer “no conforto das vossas casas”, mas felizmente percebi a tempo que poderia ser de péssimo mau gosto.

A outra hipótese é no roupeiro de Costa haver apenas uma mala de viagem pronta, a aguardar pelo, há muito desejado, chamamento de Bruxelas. Por acaso tenho dúvidas que António Costa esteja em condições de responder a uma eventual chamada de Bruxelas. Pelos menos se a chamada for como se fazia na escola: uma pessoa ouvia o seu nome, punha a mão no ar, e dizia “Presente”. Acho que Costa pode ter dificuldade em responder a esse tipo de chamada, depois de tantos anos a treinar o instinto de, sempre que o chamavam de Bruxelas, estender e mão e dizer “Now can I go to the bank?”

Quem também quer ir para Bruxelas, mas à conta das eleições europeias de junho, é o surpreendente cabeça de lista da AD, Sebastião Bugalho. E surpreendente porquê? Bom, desde logo, pela juventude de Bugalho. Malta desta idade, quando tem hipótese de se deslocar à zona do extinto Benelux, tende a optar, por uma questão de, digamos, “política recreativa”, pela cidade de Amsterdão.

Por outro lado, a escolha é agradavelmente surpreendente, porque o seu anúncio coincidiu com a nova instalação do, também jovem, artista, Bordalo II, que colocou uma caixa com um cravo e a palavra “liberdade” a tapar a campa do Salazar. E acaba por ser agradável ver que, apesar de haver jovens que insistem em fazer política a bater a mortos, outros há que optam por bater-se politicamente com adversários bem vivos.