O Supremo Tribunal dos Estados Unidos provavelmente decidirá em breve que o aborto não é um direito constitucional, e portanto os diversos estados podem legislar como entenderem sobre esse assunto.

É semelhante ao que se passa na União Europeia, onde cada país tem a sua legislação sobre o aborto, umas mais permissivas e outras mais restritivas.

A decisão do Supremo Tribunal vai forçar a que em cada estado haja um debate sobre o aborto.

E esse debate é importante que aconteça, porque tem sido sufocado por uma série de slogans, que servem para fugir à discussão e não para a esclarecer.

Um exemplo é o slogan individualista “no meu corpo mando eu”.

Em geral isso não é verdade com corpo nenhum, e não faltam circunstâncias externas e internas a mostrá-lo: aquela dor nas costas que não passa, a ferida que me fizeram que não sara, etc.

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De qualquer modo, já assume a ideia errada de que o meu corpo é algo exterior a mim, que posso fazer o que quiser com ele, como a qualquer objecto da minha propriedade. E isso não é assim, porque eu sou o meu corpo, e o que faço a ele estou a fazer a mim próprio.

Esse e outros slogans que as feministas gostam de gritar têm como objectivo evitar ir ao cerne da questão, ou seja, se e quando é lícito eliminar uma vida humana inocente e indefesa.

É preciso que expliquem claramente porque é que aquela vida humana embrionária, mas já completamente formada, pode ser eliminada. E porque não tem direitos.

Que expliquem que diferença há entre um nascituro com 10 semanas, ou com 20, ou com 30 ou um nascido com 40, que justifique proteções tão diferentes.

E porque acham razoável abortar alguém com o síndrome de Down, mas não matá-lo depois de nascer. Querem instituir na sociedade o eugenismo?

Que justifiquem porque é que se pode abortar sem nenhuma causa, por mero capricho. Que digam se acham que o aborto deve ser um meio de contracepção, disponível como a pílula. E se se pode abortar só porque se quer uma criança com o outro sexo.

Que expliquem porque nos dizem que o aborto é seguro, quando se sabe que é um risco sério para a saúde da mãe. Quantas são informadas do trauma pós-aborto?

Porque não mostram uma ecografia às mulheres que pensam em abortar para elas poderem tomar uma decisão consciente e portanto livre? E porque não mostrar as soluções alternativas, que existem, e animar as mulheres a optarem por elas?

Porque acham que os nossos impostos devem ser usados para matar seres humanos? Como compatibilizam a obrigação do Estado de defender os mais débeis e frágeis, com a permissão para abortar, sem restrições? O aborto livre é compatível com a procura da reversão do declínio demográfico?

Digam-nos porque o pai do embrião não tem direito a pronunciar-se sobre a vida que ele gerou, tanto quanto a mãe. Se o bebé depois de nascer não é só da mãe, porque o há-de ser antes de nascer?

Que nos expliquem porque é que há mais garantias de morte sem sofrimento para uma vaca num matadouro do que para um embrião humano num hospital. Explicam o procedimento com suficiente detalhe à mulher que vai abortar? Se é um aborto químico, ou mecânico, e o que esses processos fazem ao embrião?

Expliquem-nos o que fazem com os restos mortais dos abortados; é lícito usá-los para experimentação, ou para fins comerciais?

E ainda temos o outro reverso da medalha: porque é que fomentam na educação e na sociedade em geral o sexo livre e irresponsável, que levará necessariamente a gravidezes não previstas, e provavelmente ao aborto?

A discussão destes assuntos é um tema tabu para os individualistas de esquerda ou de direita. Eles prefeririam que o aborto fosse um assunto encerrado, mas como mostra o exemplo dos Estados Unidos, não é.

Temos de agradecer aos grupos pró-vida que procuram manter viva uma discussão que outros gostariam que não existisse.