Os bancos da zona euro recolheram 129,8 mil milhões de euros em nova liquidez na segunda emissão pelo BCE de liquidez a juros baixos e prazo longo. O montante, que se junta aos 83 mil milhões injetados no primeiro leilão, em setembro, ficou bem abaixo das expectativas dos analistas. E, sobretudo, terá dececionado Mario Draghi, o presidente do BCE, que contava com estas operações para estimular a concessão de crédito na zona euro e combater os riscos associados à inflação demasiado baixa na região. Os analistas dizem que este resultado mostra que a única opção do BCE para aumentar o seu balanço na medida em que pretende será a compra de dívida pública, a “bazuca”, como essa possível medida é conhecida nos mercados.

Os dados revelados esta quinta-feira pelo BCE são mais um golpe para Mario Draghi e para o BCE. Foi divulgado o resultado da segunda (e última) Operação de Refinanciamento de Longo Prazo Direcionada (TLTRO, na sigla original), uma das “armas” anunciadas em junho pelo BCE e com a qual Mario Draghi contava injetar uma quantidade maior de liquidez na economia. Esta liquidez tinha uma taxa fixa mínima e um prazo alargado – de quatro anos –, o que levou Draghi a acreditar que os bancos iriam acorrer em força, apesar de estes terem de provar que a liquidez recebida seria utilizada na concessão de crédito (daí a palavra “direcionada”, ou “targeted”).

Esta segunda operação contou com uma procura um pouco maior por parte dos bancos da zona euro mas, ainda assim, o valor injetado ficou abaixo das expectativas. Depois dos 83 mil milhões de euros injetados em setembro, na operação de dezembro foram colocados menos de 130 mil milhões de euros em nova liquidez. Nos últimos dias, os economistas apontavam para um valor mínimo de 150 mil milhões de euros, ainda que mesmo esse montante pudesse não ser suficiente para amenizar os receios de que o BCE não conseguirá, com as medidas atuais, cumprir o seu objetivo.

Estes 130 mil milhões de euros injetados em dezembro vão contribuir para aumentar o balanço de BCE, basicamente a quantidade de créditos que os bancos do eurosistema têm perante o BCE. Este é um fator determinante para a quantidade de moeda a circular, para a concessão de crédito, para a cotação do euro, entre várias outras implicações. O objetivo do BCE é elevar o seu balanço, até recentemente em cerca de dois biliões de euros, para mais de três biliões de euros. O objetivo é, portanto, aumentar em cerca de 50% o balanço. Para isso foram lançadas estas duas operações de concessão de liquidez barata e a prazo longo e também outras medidas de compra de dívida privada que estão em curso. Os menos de 215 mil milhões de euros injetados nas TLTRO (83 mil milhões da primeira mais os cerca de 130 mil milhões da segunda) mostram como ainda está distante o objetivo de aumento do balanço.

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“Muito menos do que o BCE esperava”

“A tomada de liquidez nesta segunda TLTRO talvez não tenha sido tão baixa quanto alguns economistas temiam, mas foi provavelmente muito mais baixa do que o BCE esperava“, escreve Martin van Vliet, economista do ING, em nota enviada aos clientes a que o Observador teve acesso. “A injeção abaixo da esperada vai aumentar as dúvidas acerca da capacidade do BCE em aumentar o balanço em cerca de um bilião” através das medidas atualmente em curso, diz o economista. “Por esta razão, o resultado torna mais provável que o BCE vá lançar um plano generalizado de expansão monetária no primeiro trimestre do próximo ano“.

Christian Schulz, economista do Berenberg Bank em Londres, concorda que esse é um cenário cada vez mais provável e que a “bazuca” poderá ser anunciada já na próxima reunião do conselho de governadores do BCE, a 22 de janeiro, ou na seguinte, a 5 de março.