O euro caiu esta madrugada de segunda-feira para o valor mais baixo desde março de 2006 face ao dólar, com os investidores convencidos de que o Banco Central Europeu (BCE) estará prestes a anunciar novos estímulos monetários, potencialmente incluindo um controverso programa de compra de dívida pública. Do outro lado do Atlântico, em contraste, a Reserva Federal dos EUA já prepara a primeira subida da taxa de juro. Um euro está a valer menos de 1,20 dólares, com as eleições na Grécia a gerarem, também, alguma preocupação nos mercados.

A moeda única chegou a cair até aos 1,1864 dólares esta madrugada, um mínimo de quase nove anos que os analistas estão a explicar com a tendência divergente da política dos bancos centrais BCE e Reserva Federal, além da crise política na Grécia. “As razões para estar a vender o euro ficaram muito claras durante o fim de semana: Draghi está mais perto do Q.E. [sigla para “quantitative easing”, ou expansão monetária, neste caso através da compra de dívida pública] e um agravamento dos receios em torno da situação política na Grécia”, disse à Bloomberg Sean Callow, analista do Westpac Banking Corp, em Sidney.

Pelas 8h00, hora da abertura dos mercados europeus, o euro descia 0,44% para 1,1949 dólares, perdendo terreno, também, face a divisas como a libra e o iene.

Euro em mínimos de quase nove anos

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A moeda única caiu esta madrugada para a casa dos 1,18 dólares, um mínimo desde março de 2006. Descida do euro acentuou-se nos últimos quatro meses. Fonte: Bloomberg

O presidente do BCE, Mario Draghi, reconheceu em entrevista publicada num jornal alemão, a 2 de janeiro, que “o risco de não cumprirmos o nosso mandato da estabilidade de preços é maior do que há seis meses”. Esta é uma forma de admitir que a zona euro está em risco de ter uma inflação muito baixa por demasiado tempo ou, mesmo, de um período de deflação. É para combater estes riscos que Mario Draghi diz que o BCE está em “preparações técnicas para ajustar o tamanho, velocidade e a natureza das nossas compras [de ativos no mercado] no início de 2015 caso se torne necessário reagir a um período muito longo de baixa inflação”.

Quando Mario Draghi fala em mais estímulos, o que estará em causa é um programa de compra generalizada de ativos incluindo dívida pública, com vista a aumentar o balanço do banco central. Isto porque os programas em curso de compra de dívida privada que estão em curso podem não ser suficientes. Será algo inédito na zona euro, apesar de estar a ser feito há vários anos nos EUA, Reino Unido e Japão. A taxa de inflação na zona euro voltou a descer em novembro, para 0,3%, segundo a primeira estimativa do Eurostat. É apenas uma fração dos “abaixo, mas perto de 2%” que corresponde ao objetivo do banco central.

Na Grécia, a bolsa de Atenas tem estado sob pressão após ter sido anunciada a realização de eleições legislativas antecipadas, na sequência de o Parlamento não ter conseguido eleger novo Presidente da República. Na terça-feira, o primeiro-ministro demissionário, Antonis Samaras, disse que “esta batalha [as eleições de 25 de janeiro] vai determinar se a Grécia fica na Europa”. O partido de esquerda radical Syriza continua a liderar todas as sondagens.

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