A rosa do povo
Carlos Drummond de Andrade
(Companhia das Letras)

Quando andava na escola, odiava Carlos Drummond de Andrade. Estava mais interessada nos modernismos, futurismos e outros ismos, e a simplicidade de Drummond de Andrade parecia-me chata, enfadonha. Aborrecia-me. Tinha demasiado samba no pé, e a mim apetecia-me outras canções. Mas lá diz o ditado: com a idade vem a sabedoria (e o bom gosto literário).

Descobri Drummond de Andrade depois de me encontrar com Vinicius de Moraes e de me apaixonar por deixas como “nossos olhos indecomponíveis ficassem para sempre abertos mirando muito além das estrelas” (não fui a primeira mulher nem serei a última). É muitas vezes assim que nasceu as maiores histórias de amor — por acaso — e foi assim, através de Vinicius, que decidi dar uma segunda hipótese ao pobre Carlos, tão maltratado durante a minha adolescência.

A rosa do povo, livro publicado originalmente em 1945 (e agora editado pela primeira vez em Portugal pela Companhia das Letras), no final da Segunda Guerra Mundial, é uma das suas obras mais conhecidas e também mais políticas. E se a política pode ser, por vezes, extremamente feia, a poesia de Drummond de Andrade não o é. Há algo de verdadeiramente belo e sincero nos versos do poeta brasileiro — nas suas linhas curtas, no amor imenso –, mesmo quando fala de uma Europa despedaçada por uma guerra bárbara, que todos os dias acorda “para a morte”. Nos 55 poemas de A rosa do povo, Drummond presta-lhe homenagem, refletindo sobre os valores e ideias do velho continente. Fala sobre os medos, os sonhos de quem lá vive — aquilo que, em última instância, faz de nós humanos.

Os Romanov. Ascensão: 1613 – 1825
Simon Sebag Montefiore
(Presença)

Depois de ter escrito uma (muito galardoada) biografia de José Estaline, um livro sobre a história de Israel e uma extensa obra sobre o romance da imperatriz Catarina, a Grande e Potemkine (um charmoso nobre russo de barba ruiva com um só olho), o historiador Simon Sebag Montefiore decidiu mergulhar a fundo na história dos Romanov, a última dinastia real russa e a mais bem sucedida dos tempos modernos. O resultado foi Os Romanov: 1613-1918, considerado um dos melhores de não-ficção de 2016 por inúmeras publicações internacionais (o suficiente para deixar água na boca). Felizmente para os leitores portugueses, o livro chegou muito recentemente a Portugal, numa edição da Presença. Mas com um senão: veio só pela metade.

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Os Romanov é assustadoramente extenso — a edição original tem mais de 700 páginas e a portuguesa mais de 500. A obra traça a história muitas vezes conturbada dos Romanov — desde a subida ao trono do czar Miguel I (e até um pouco antes disso) até à queda da monarquia com Nicolau II — recorrendo, para isso, a centenas de fontes e arquivos russos. Ao percorrer ao pormenor a história da mais importante dinastia da Rússia, Montefiore vai desfiando os complexos jogos de poder, as intrigas políticas e as histórias de amor. Mas sem nunca se tornar chato ou maçudo.

Apesar de minuciosamente detalhado (as mais de 500 páginas da edição portuguesa incluem centenas de notas de rodapé, várias páginas de comentários, fotografias, mapas e árvores genealógicas) e de as mudanças de personagens serem difíceis de acompanhar (felizmente o historiador decidiu incluir guias de personagens antes do início de cada capítulo), lê-se como se fosse um romance (e até inclui histórias de circos de anões e outras bizarrias difíceis de acreditar).

Infelizmente para os leitores portugueses, a edição da Presença vai apenas até 1825, início do reinado de Nicolau I, sendo que a obra original termina em 1918, com Nicolau II, o que não deixa de ser frustrante para quem quer chegar ao fim da história. O lançamento do segundo volume em português está marcado para outubro de 2017 e, até lá, vale a pena ler a primeira parte dos Romanov de Montefiore.

Beren and Lúthien
J.R.R. Tolkien
HarperCollins

O lançamento de uma nova história de J.R.R. Tolkien é sempre caso para deixar escapar uma lágrima ou outra, principalmente se se tratar de Beren and Lúthien. O conto — editado recentemente em livro pela HarperCollins, na data do décimo aniversário da publicação de Os Filhos de Húrin, com edição do filho do autor, Christopher Tolkien, e ilustrações (belíssimas) de Alan Lee, ilustrador de longa data dos livros de Tolkien — tinha um significado especial para o autor. De tal forma, que quando a mulher, Edith, morreu, mandou gravar na sua campa “Lúthien”, por baixo do seu nome. Dois anos depois, quando Tolkien foi sepultado no mesmo local, foi acrescentado à lápide o nome “Beren”.

Mas quem eram estes Beren e Lúthien? A história faz lembrar uma outra, mais conhecida, que faz parte da trilogia O Senhor dos Anéis — a do humano Aragorn e da dama Arwen (que, curiosamente, são descendentes dos protagonistas na história agora publicada).

Beren era o último sobrevivente de um grupo de homens liderados por Barahir, seu pai, que tinham lutado contra Morgoth em Dagor Bragollach. Depois do final da batalha e da morte dos seus companheiros, Beren foge para Doriath, o reino élfico de Thingol e Melian. É aí que conhece Lúthien, a única filha dos dois, por quem se apaixona. Thingol, que não gostava de Beren, mostrou-se contrário à união da sua filha com o mortal. Procurando impedir que tal acontecesse, decidiu dar a Beren uma tarefa impossível que este teria de cumprir para poder casar com Lúthien — tirar a Morgoth um dos silmarils, jóias sagradas que este tinha roubado aos elfos.

O conto foi originalmente escrito em 1917, depois da Batalha de Somme, em França, na qual Tolkien participou (o autor serviu o Exército Britânico durante a Primeira Guerra Mundial), mas os primeiros rascunhos são ainda mais antigos — de 1914 –, o que significa que antecede obras como O Hobbit ou O Senhor dos Anéis. Apesar de nunca ter tido o protagonismo de nenhuma destas duas histórias, Beren and Lúthien desempenhou um papel importante na evolução de O Silmarillion, a monumental obra de Tolkien sobre a Terra Média. É, aliás, nesta que surge a última versão em que o autor trabalhou deste conto épico. Mas existem muitas outras (apesar de história em si ter permanecido igual), em verso e em prosa, que Christopher Tolkien tentou reconstruir. Todas elas surgem, assim, pela primeira vez lado a lado numa única edição.

Diz a lenda que a história de Beren e Lúthien foi inspirada na própria vida de Tolkien. Beren apaixona-se por Lúthien quando a vê dançar, com flores no cabelo, um episódio que terá acontecido com o autor e a sua mulher, Edith. Além disso, de acordo com um dos biógrafos de Tolkien, Humphrey Carpenter, os pais de Edith não estavam de acordo com o casamento porque o escritor era católico. Independentemente das razões que levaram o casal a rever-se na lenda do mortal que se apaixonou por uma dama élfica, a verdade é que a história tinha um significado especial para Tolkien e Edith. E é por isso que está hoje imortalizada no local onde foram sepultados.

Harry Potter e a Pedra Filosofal
J.K. Rowling
(Várias editoras)

No ano em que se celebram os 20 anos da publicação de Harry Potter e a Pedra Filosofal, primeiro livro da saga de J.K. Rowling que mudou a vida a milhares de pequenos leitores um pouco por todo o mundo, são vários os lançamentos que pretendem assinalar a data e que acabam por ser uma boa desculpa para reler a história do jovem feiticeiro. Ainda nenhum deles teve direito a uma edição portuguesa, mas vale a pena dar uma vista de olhos.

No início do ano, a Bloomsbury e a Scholastic, responsáveis pelas edições de Harry Potter no Reino Unido e nos Estados Unidos da América, respetivamente, lançaram novas versões — com novas capas — da chamada “Biblioteca de Hogwarts”, que inclui os livros Fantastic Beasts and Where to Find Them, de Newt Scamander, Quidditch Through Times, de Kennilworthy Whisp, e The Tales of Beadle The Bard. As edições da Bloomsbury tiveram direito a capas novas feitas por Jonny Duddle e ilustrações de Tomislav Tomic, e Fantastic Beasts and Where to Find Them inclui também seis novos monstros. Todos estes livros foram editados originalmente em Portugal pela Presença, mas atualmente só Os Contos de Beadle, o Bardo (na edição anterior) se encontra disponível para compra.

Também para celebrar os 20 anos de Harry Potter, a Bloomsbury lançou quatro novas edições do primeiro livro da saga — uma para cada uma das quatro casas de Hogwarts, que são Gryffindor, Hufflepuf, Slytherin e Ravenclaw. Há uma versão em capa dura, em preto e a cor da casa correspondente, e uma em capa mole, de uma só cor. Até ao final do ano, pela mesma editora, deverá ainda sair a edição ilustrada de Harry Potter and the Goblet of Fire, com desenhos de Jim Kay. Esta coleção tem vindo a ser publicada em Portugal pela Presença.

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