Boris Nemtsov, um dos mais carismáticos líderes da oposição russa, afirmou, no dia 1 de Fevereiro: “receio que Putin me assassine”. E não passou um mês para que morresse assassinado na sexta-feira 27 de Fevereiro. A tiro e quando seguia acompanhado por uma mulher.

Até agora não se sabe quem foram os autores e os mentores do crime, mas o facto é que Nemtsov foi assassinado no centro da cidade de Moscovo, a poucos metros do Kremlin, numa zona extremamente controlada por polícia e serviços secretos.

Boris – trato-o pelo nome porque o conhecia pessoalmente e era seu amigo no Facebook – foi cobardemente assassinado com quatro tiros nas costas, numa acção que parece ser um sinal claro à oposição russa, que se preparava para a realização de manifestações de protesto este domingo, 1 de Março.

Nascido em 1959, Boris Nemtsov tornou-se conhecido por, sendo um político muito jovem, ter dirigido a Região de Nijninovgorod entre 1991 e 1997. Depois, ocupou importantes cargos do Governo da Rússia, nomeadamente o de primeiro-vice-primeiro ministro. Quando se começou a falar de possíveis sucessores de Boris Ieltsin no cargo de Presidente da Rússia, o jovem liberal foi um dos nomes mais citados.

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Não foi ele o escolhido, mas Vladimir Putin. Mas depois de este chegar ao cargo de Presidente do país, Nemtsov transformou-se num dos dirigentes mais carismáticos da oposição. Foi autor de vários relatórios sobre a corrupção na corte de Putin. Pouco antes da sua morte, anunciou que tencionava publicar um livro com provas sobre a presença militar russa na Ucrânia.

O opositor esteve na linha da frente dos críticos da política de Putin em relação à Ucrânia, por isso, a propaganda oficial colocou o seu nome na lista dos “traidores” e do que designa como a “quinta coluna dos americanos” e

O Presidente russo considerou o assassinato uma “provocação” e prometeu controlar a investigação, mas isso ainda não significa que os autores e mentores do crime sejam capturados e julgados.

Do ponto de vista político, Putin não precisa deste tipo de acções para neutralizar a oposição ou para elevar a sua popularidade, mas sem dúvida que tem fortes responsabilidades morais pela situação de histeria bélica que se vive no país, pelo ódio diariamente dirigido pela propaganda oficial contra os opositores, pela perseguição judicial de outros líderes da oposição.

Em 2012, Vladimir Putin previu uma situação destas, mas atribuiu-a a mãos alheias: “eu conheço esse método, há já dez anos que tentam empregá-lo, principalmente os que se encontram no estrangeiro. Até procuram um bode sacro entre pessoas conhecidas. Limpam-lhe o sebo, desculpem a expressão, e depois acusam o poder”.

Até agora já foram assassinados numerosos opositores: a jornalista de investigação Anna Politkovskaia, o antigo membro dos serviços secretos russos Alexander Litvinenko, o jornalista Iúri Tchikhotchikhin, o deputado liberal Serguei Iuchakov, mas nunca foram encontrados os autores e mentores desses crimes. Será desta vez que a justiça russa vai descobrir alguma coisa ou que amanhã começará mais uma campanha com vista a acusar as “forças misteriosas externas” de mais este crime?

P.S. O canal televisivo russo NTV, propriedade da Gazprom, preparava-se para exibir, no Domingo, mais uma série do “documentário”: “Anatomia do protesto”, que seria dedicado a denegrir a imagem de Boris Nemtsov.