Joaquim Biancard Cruz ainda agora chegou ao Parlamento Europeu e já está quase a fazer as malas. O mais recente eurodeputado português exercerá o cargo apenas em maio e junho. Será então Biancard Cruz o exemplo do eurodeputado que ganha bem e não faz nada? A ideia indigna-o. “Vou apresentar dois documentos relativos ao desemprego jovem e à ligação entre as universidades e as empresas”, conta ao Observador enquanto almoça a correr entre ações de campanha da Aliança Portugal. Joaquim Biancard Cruz vai ao Parlamento Europeu “quando é preciso”, o que lhe permite participar na campanha para eleger Paulo Rangel e Nuno Melo.

Quando lá chegou pela primeira vez, no início do mês, aquele órgão estava a funcionar “a menos de meio gás”, reconhece, dada a aproximação do fim da legislatura e de estar a ser preparada a campanha para as europeias.

Nada que o tenha assustado. “Aceitei de imediato” o cargo, recorda, para logo a seguir explicar que, nas três semanas que leva de mandato – tomou posse a 1 de maio – lançou um concurso para um cargo de assessoria e até já escolheu a vencedora. Chama-se Joana, é de Amarante e está a doutorar-se em Direito Europeu. Biancard justifica: foi “para dar uma oportunidade a alguém novo”.

Joaquim Biancard Cruz é economista, tem 34 anos, já foi candidato a uma câmara municipal e entrou no PSD através da “jota”. Gosta de contar com orgulho que a sua família tem uma escrivaninha que terá sido utilizada pelo general Beresford durante as Invasões Francesas, como contou à revista Itinerante. E nas redes sociais já deixou marcas da sua breve passagem por Bruxelas.

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Isso, aliás, notou-se na sua página de Facebook, onde o eurodeputado publicou uma fotografia em frente ao Parlamento Europeu na qual aparece sorridente. Nessa página, Biancard Cruz colocou também dois vídeos sobre a integração e as eleições de dia 25. “Votar nas eleições europeias é escrever o nosso futuro”, diz, apelando ao voto. “Nós, portugueses, somos europeus”, enfatiza num dos vídeos. Até porque, defende, a adesão portuguesa à CEE foi “um dos maiores feitos históricos do país, a par dos Descobrimentos”.

Uma vocação que acredita que todos os portugueses deviam sentir. “As pessoas consideram que o debate europeu não é o seu, mas 60 a 70% da nossa legislação emana da Europa”, diz, acrescentando entusiasmado: “Sou um europeísta convicto. Devemos ter muito carinho pelo projeto europeu”.

Antes da aventura europeia, Joaquim Biancard Cruz esteve noutras corridas. Foi candidato à presidência da Câmara Municipal de Sobral de Monte Agraço. Ficou em último lugar (ganhou a CDU), mas sem mágoa. “Quando há este desafio de nós lutarmos na nossa localidade há o desafio da proximidade, que é o ato mais nobre da política”, tinha dito na apresentação da candidatura. Referindo-se ao dito popular segundo o qual um homem tem de plantar uma árvore, escrever um livro e ter um filho para se sentir realizado na vida, insistia noutra altura: “Eu acrescentava outra coisa: tem de se candidatar uma vez na vida pela sua terra.”

Já este ano, Biancard Cruz tornou-se presidente dessa concelhia do PSD, sucedendo a Duarte Pacheco, atual secretário da mesa da Assembleia da República. Antes disso, foi vice-presidente da comissão política da JSD e mandatário para a juventude na candidatura de Manuela Ferreira Leite à liderança do partido.

O novo eurodeputado vai, à semelhança de todos os outros, receber 8.020,53 euros brutos por mês e ainda as ajudas de custo normais para o cargo (estadia, transportes, deslocações) – perdendo em impostos quase 2.000 euros. Foi substituir Maria da Graça Carvalho, antiga ministra da ciência e ensino superior de governos PSD, que regressou às funções de conselheira da Comissão Europeia, justificando a decisão com o facto de deixar de haver atividade parlamentar a partir de meados de abril.