O Governo moçambicano e a Renamo, principal partido da oposição, anunciaram nesta terça-feira um entendimento em relação a 95% das matérias que são objeto de negociação para o fim da crise política e militar no país. “Estamos em condições de dizer que todas as questões postas à mesa podem ser consideradas consensualizadas em cerca de 95%”, disse, em conferência de imprensa, o chefe-adjunto da delegação do Governo, Gabriel Muthisse, no final da ronda negocial de hoje, em Maputo.

“Do nosso ponto de vista, em relação a todas as questões relevantes e estruturais, parece haver um acordo entre o Governo e a Renamo (Resistência Nacional Moçambicana), há ainda uma ou outra questão de forma que tem de ser pensada”, acrescentou Muthisse, que é também ministro dos Transportes e Comunicações de Moçambique.

Questionado sobre o conteúdo dos entendimentos alcançados nas negociações, o chefe-adjunto da delegação do Governo respondeu que as duas partes acordaram revelar a substância do acordo no final do processo de diálogo, adiantando que tal poderá acontecer na próxima sessão, agendada para segunda-feira.

“Vamos, na próxima semana, procurar, tanto quanto possível, fechar os aspetos pendentes. O passo seguinte seria colocar os peritos militares do Governo e da Renamo a trabalhar em questões específicas e de procedimento sobre a cessão dos ataques, a desobstrução total da estrada nacional número um e de outras vias em que a circulação de pessoas e bens tem sido impedida”, assinalou Gabriel Muthisse.

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Enfatizando que as duas últimas sessões de diálogo decorreram num espírito positivo e foram construtivas, Muthisse disse esperar que os progressos que têm sido registados nas últimas rondas resultem na restauração da estabilidade nas zonas de conflito, mesmo antes de um acordo formal.

O chefe-adjunto da delegação do Governo reiterou a disponibilidade de o chefe de Estado moçambicano, Armando Guebuza, se encontrar com o líder da Renamo, Afonso Dhlakama, considerando que a reunião poderia impulsionar o regresso definitivo da estabilidade ao país. “O Presidente da República está na plena disponibilidade de, a qualquer momento, se encontrar com o líder da Renamo na capital do país e isso representar o processo de reinserção do líder da Renamo na política ativa”, frisou Gabriel Muthisse.

Por seu turno, o chefe da delegação da Renamo, Saimone Macuiane, afirmou que 95% do “trabalho” já está feito, assinalando que as matérias em discussão poderão ser concluídas na próxima ronda. “Hoje, tivemos a ronda número 65, houve avanços significativos, ainda não concluímos o trabalho, mas consideramos que 95% já está feito, queremos reiterar que a Renamo e o seu presidente, Afonso Dhlakama, continuam firmes no diálogo, colaboração e consulta em nome dos interesses superiores do povo”, sublinhou Saimone Macuiane.

O chefe da delegação do principal partido da oposição disse esperar que as duas delegações produzam resultados definitivos para a crise política e militar em Moçambique na ronda da próxima segunda-feira. “O povo moçambicano quer saber que se chegou a um meio-termo, para a paz e estabilidade, e as partes estão perto de concluir o seu trabalho”, afirmou Saimone Macuiane.

Os avanços registados hoje e na sexta-feira da semana passada acabam com meses de impasse nas negociações sobre a crise política e militar no país, provocado por divergências em torno do desarmamento dos homens da Renamo, que têm estado envolvido em confrontos com o exército moçambicano, no centro do país, e aos quais o Governo imputa responsabilidades por ataques a alvos civis na região.