Os Estados membros da União Africana defenderam hoje que as proibições de viajar impostas para deter a epidemia de Ébola devem ser levantadas, para que o impacto económico das restrições não piore a situação do continente africano.

“Foi acordado que, como Estados membros africanos, deveríamos instar todos a levantarem os obstáculos impostos às deslocações, para que as pessoas possam circular entre países, para que haja trocas e para que estejam abertos a atividades económicas”, disse a chefe da comissão da União Africana (UA), Nkosazana Dlamini-Zuma. “Mas foi igualmente sublinhado que apesar de a proibição de viajar poder ser levantada, deverá haver mecanismos de supervisão montados, tanto nos países de onde os cidadãos saem, como nos de entrada, seja em aeroportos ou fronteiras terrestres, ou portos de mar”, acrescentou.

O balanço da epidemia de febre hemorrágica Ébola — que está a alastrar pela África Ocidental, sendo a Libéria, a Guiné-Conacri e a Serra Leoa os países mais atingidos — ultrapassou os 2.000 mortos, de entre as quase 4.000 pessoas que foram infetadas, segundo a Organização Mundial de Saúde. Na luta para deter a propagação da doença, alguns países afetados impuseram quarentenas em regiões inteiras, ao passo que outros, que foram até agora poupados ao vírus mortal, cancelaram os voos para os países afetados.

Dlamini-Zuma comunicou ao conselho executivo da organização, que se reuniu na capital etíope Adis Abeba, a urgente necessidade de “articular uma resposta africana unida, abrangente e coletiva” ao surto epidémico.

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A decisão foi tomada no final de uma reunião de emergência de um dia da União Africana sobre o Ébola, realizada quando se elevam as expectativas quanto a uma potencial vacina que previna temporariamente o contágio.

Uma nova vacina testada até agora apenas em macacos forneceu “proteção completa a curto-prazo e parcial a longo-prazo” contra o vírus, indicaram investigadores à revista Nature Medicine.

A responsável da comissão da UA advertiu que, na batalha para deter o alastramento da doença, é necessário “ter cuidado para não introduzir medidas que tenham mais impacto social e económico do que a própria doença”. Com as restrições fronteiriças a impedir o comércio, o preço dos alimentos está a aumentar, apontou, fazendo eco do aviso das Nações Unidas relativamente à grave escassez de alimentos nos países mais atingidos pela doença. “Devemos instaurar medidas rígidas para deter a propagação da doença, mas temos também de pôr em prática medidas que permitam que a agricultura se mantenha e se apoie os comerciantes”, acrescentou Dlamini-Zuma.