Ao fim de 90 minutos, nada feito. O empate persistia e, portanto, haveria mais meia hora de bola a rolar. Os jogadores, tanto gregos como costa-riquenhos, estavam de rastos: uns sugavam água, outros sentavam-se a descansar e outros deitavam-se na relva, a descansar os músculos. “O árbitro mandou-nos sair, disse-nos que não podíamos estar ali”, recordou Fernando Santos, quando foi apresentado, esta quarta-feira, como novo selecionador nacional. Mas nada disse à seleção da Costa Rica. No final do prolongamento, o filme repetiu-se. Ou aliás, piorou.

Nessa altura, com os jogadores ainda mais de rastos, o árbitro foi dizer o mesmo aos gregos. “E só nós é que temos de sair do relvado?”, perguntou o português, surpreso com a insistência de Ben Williams, o homem do apito. “Ele não me respondeu e expulsou-me”, resumiu. O cartão vermelho dá equivalência a um exilo no balneário. Quando já lá chegava, porém, um responsável da seleção grega apareceu a dizer-lhe que dois jogadores “não queriam marcar”.

Por isso, Fernando Santos voltou para trás, subiu ao relvado e arranjou “outros dois que o fizessem”. Dias depois, a 4 de julho, a FIFA, entidade que gera o futebol mundial, falava — e castigava o português com oito jogos oficiais de suspensão. Esta quarta-feira, um porta-voz da FIFA garantiu ao Observador que rejeitou o recurso contra a decisão — e que “já tinha informado as partes interessadas”. Nas quais ainda não se incluía a Federação Portuguesa de Futebol (FPF), pois o gabinete jurídico ainda não intercedeu em nome de Fernando Santos junto da FIFA.

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O próprio treinador deixou isso claro durante a sua apresentação como novo selecionador nacional. A FIFA, aliás, “nunca falou” com treinador, garantiu o próprio, e só a Federação Grega de Futebol foi informada da decisão. “Eu soube passados dois ou três dias, quando estava no Alentejo, e o Ricardo Santos [novo responsável pela área de scouting da seleção nacional] me disse que tinha apanhado um castigo”, revelou.

Só a 30 de julho, aliás, é que o hoje selecionador de Portugal falou com Fernando Gomes. “Telefonou-me imediatamente, a perguntar se os serviços jurídicos poderiam estar à sua disposição. E federação nunca deixará de prestar auxílio a qualquer agente do futebol português que no-lo peça”, assegurou o presidente da FPF. O treinador, contudo, indicaria na conferência de imprensa que, para já, ainda não tinha sido assessorado “no processo normal de recursos” pela federação portuguesa de futebol.

Algo que deverá acontecer a partir de agora. Com o ‘não’ da FIFA, a única instância que ainda se poderá pronunciar sobre o castigo aplicado a Fernando Santos é o Tribunal Arbitral do Desporto (TAS) — entidade que até terça-feira ainda não tinha sido contactada quer pelo técnico ou pela federação, como garantiu ao Observador. “Se estamos aqui é porque consideramos que [o castigo] não é condicionante para celebrarmos contrato”, explicou Fernando Gomes.

Se nada se alterar, Fernando Santos apenas se sentará no banco da seleção, em jogos oficiais, no segundo encontro da fase de grupos do Europeu de 2016 — caso Portugal se qualifique diretamente. Algo que pareceu não preocupar o treinador. “Não é uma situação normal, mas temos armas suficientes para combater isso de uma forma positiva e que não prejudique a equipa”, argumentou. Uma delas é Ilídio Vale, até aqui selecionador dos sub-20 e que passará a ser “treinador nacional A’, para estar no banco enquanto durar a suspensão de Fernando Santos.