O candidato às primárias socialistas, António Costa, pediu na noite de quinta-feira uma vitória “inequívoca”. “Os portugueses querem uma alternativa e olham para o PS com ansiedade, esperando que os militantes e simpatizantes digam de forma clara e inequívoca quem está em melhores condições para ser o próximo primeiro-ministro de Portugal e liderar o processo de mudança”, acrescentou o autarca de Lisboa, dizendo que o resultado da eleição de domingo “tem de corresponder mesmo àquilo que é a vontade autêntica dos portugueses e portuguesas”.

Costa traçou também um argumento interno, com farpa a Seguro: “Tem de ser uma voz audível e inequívoca para que não surjam novos obstáculos nos pretextos, novos adiamentos, novas manobras estatutárias para impedir a mudança que começa agora no PS e que tem de ser feita no conjunto do país”.

No comício de Lisboa, Costa saudou também os deputados do PS que recorreram ao Tribunal Constitucional contra o Orçamento de 2012, acusando a direção do partido de ter feito oposição à própria história socialista. Foi a única vez que Costa fez referência, ainda que indireta, a António José Seguro durante o encerramento do comício da Reitoria da Aula Magna de Lisboa, naquele que foi o penúltimo dia de campanha.

“Quero aproveitar para agradecer publicamente a todos os nossos camaradas deputados, em particular ao ex-ministro e atual deputado Alberto Costa, que os liderou nessa altura tão difícil, por resgatar a honra do PS, opondo-se ao Orçamento do Estado para 2012 e recorrendo ao Tribunal Constitucional em nome da defesa da Constituição”, declarou o presidente da Câmara de Lisboa, levantando pela primeira vez a plateia.

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António Costa reiterou depois a tese de que a crise na bancada socialista do início de 2012, quando a direção de António José Seguro se opôs que um grupo de deputados socialistas recorresse ao Tribunal Constitucional contra os cortes nos subsídios de férias e de natal dos trabalhadores do setor público, foi, na sua opinião, o momento capital negativo.

“Esse foi de facto o momento capital por duas razões: primeiro, porque o PS, ao recorrer ao Tribunal Constitucional, se distinguiu da governação de direita; mas foi também o momento capital por outra razão que eu (provavelmente porque sou ingénuo) só agora percebi. A razão pela qual houve a leitura de procurar dizer, fazendo coro com o Governo, que aquele Orçamento de 2012 era consequência do memorando da ‘troika’ – apesar de o memorando nada disso prever – era simplesmente uma forma de dizer que o passado do PS pertencia à oposição e que íamos também fazer oposição à nossa própria História. Foi isso que pretenderam fazer naquele momento”, sustentou o presidente da Câmara de Lisboa.

Com Mário Soares, Almeida Santos, Manuel Alegre e Vera Jardim na primeira fila do comício, o presidente da Câmara de Lisboa referiu-se ainda à atual situação dos socialistas, dizendo que “o PS precisa de se reencontrar com a sua História”. “Reencontrei nos rostos dos militantes e simpatizantes um sorriso e um brilhozinho nos olhos que há muito tempo não via num partido que estava entristecido, sem confiança, sem alma, separado da sua História e divorciado dos seus valores”, afirmou o candidato socialista às eleições primárias.

De acordo com Costa, o PS precisa de ser dirigido por “quem tenha orgulho nas sucessivas gerações” de socialistas, “desde aqueles que o fundaram ainda na clandestinidade, os que se reuniram [após o 25 de abril de 1974] no I Congresso Nacional [na Aula Magna], até aos que continuaram a assegurar os valores do PS no país”.

“Ao longo destas várias gerações há grandes marcas que o PS: A consolidação da democracia e da liberdade, a integração europeia, o Serviço Nacional de Saúde, a generalização do pré-escolar, o rendimento mínimo garantido e o complemento solidário para idosos”, acrescentou.