Vivemos o dobro, casamos mais tarde, temos menos filhos, somos mais altos e isso diz-nos que somos mais saudáveis, temos países mais democráticos. Vivemos melhor que há 200 anos? Vivemos, mas as melhorias estão longe de ser homogéneas, como explica a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) num trabalho sem precedentes onde tenta responder à pergunta “Como Era a Vida?” há 200 anos.

O estudo “How Was Life?”, publicado esta quinta-feira, faz uma análise da evolução da vida desde 1820 até aos dias de hoje, mas com base em critérios mais alargados que o normal. Os dados sempre foram escassos para avaliar essa evolução no passado, em especial em algumas regiões (continente africano, por exemplo, mas a OCDE decidiu tentar responder a estas perguntas indo para além do PIB per capita.

O desafio foi acrescentar uma visão mais global e para isso, a OCDE incluiu na sua avaliação medidas de salários reais, nível de escolaridade, estado de saúde (medido pela altura e esperança média de vida), o sentimento de segurança pessoal, a qualidade das instituições políticas, a qualidade do ambiente, a desigualdade de rendimentos e a igualdade de género.

Comecemos por alguns resultados gerais. Desde o início do século XIX, a população mundial passou de mil milhões de pessoas para mais de 7 mil milhões. À medida que a população aumentava, era preciso que as economias crescessem também para que estas pessoas tivessem casas construídas, roupas e comida. Com isto, o PIB per capita aumentou 10 vezes nestes 200 anos. Já o PIB real, a medida de crescimento da economia, aumentou em 70 vezes.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Este crescimento foi, obviamente, muito desigual. Em 1820, os países ricos eram cinco vezes mais ricos que os mais pobres. Em 1950, 130 anos depois, os países mais ricos eram 30 vezes mais ricos que os mais pobres, graças à rápida industrialização dos países ocidentais. Esta diferença cada vez mais profunda só recentemente se reduziu e tudo graças ao desenvolvimento fulgurante das economias chinesa e indiana.

Inicialmente, para as economias desenvolvidas que agora são consideradas, o crescimento da população foi um fator positivo para o crescimento económico, mas agora já começam a ser um problema a ter em conta, já que com as pessoas a viverem mais, maiores também serão os encargos com a população envelhecida, face a uma natalidade cada vez mais reduzida.

Em termos de salários dos trabalhadores menos qualificados, o que se verifica é que durante a primeira metade do século XIX muito dificilmente conseguiam sustentar a sua família com o ordenado que recebiam (só em algumas partes do mundo da Europa ocidental é que estavam acima do limiar da subsistência). O nível médio dos salários destes trabalhadores aumentou oito vezes até ao século XXI, mas as diferenças para regiões como o sudoeste da Ásia ficaram maiores. O continente africano, por sua vez, embora atrasado, tem reduzido as diferenças nos últimos anos.

Isto não significa que nos países mais desenvolvidos e na Europa ocidental os salários tenham evoluído de forma homogénea. A OCDE diz mesmo que nestes países as diferenças entre os salários mais altos e os mais baixos ficou consideravelmente maior com esta evolução, só se reduzindo ligeiramente nos últimos anos.

 

How was life

Esperança média de vida, idade de casamento e média de anos de escolaridade de mulheres e homens no século XX. Fonte: OCDE

Já a nível da educação, os resultados são bastante evidentes. Em 1820, menos de 20% da população mundial sabia ler e escrever, e estes 20% estavam concentrados especialmente nas maiores economias ocidentais e na Europa ocidental. Atualmente essa percentagem subiu para 80%, mas de forma muito desigual. Na maioria das regiões esse nível está quase nos 100%, mas em África fica-se pelos 64%, e na região do Médio Oriente/Norte de África e do sudeste asiático aos 75%.

Muito deste aumento foi conseguido já depois da Segunda Guerra Mundial e com a descolonização. O aumento da escolaridade é dos indicadores que mais tem contribuído para a redução das desigualdades, segundo a OCDE, que diz que as desigualdades neste campo é muito menor que nos salários, por exemplo.

Na esperança média de vida os resultados só se começam a ver já quase a meio do período. Só a partir de 1890 é que a esperança média de vida começou a aumentar de forma significativa, passando de 40 anos para os quase 80 que se verificam atualmente. Em muitos dos países, no entanto, esta melhoria só se começou a verificar a seguir a 1945.

A lista é grande, mas para ver a evolução, a OCDE disponibilizou um quadro interativo que ajuda a perceber como a vida foi evoluindo de região para região, e em alguns casos de países para país. A análise em si, é feita para 25 países, mas as bases de dados permitem ver uma evolução geral para quase todos os países, incluindo Portugal. Para isso, basta aceder aqui.