No final da reunião que manteve na manhã desta sexta-feira com o Presidente da República, o candidato a primeiro-ministro do PS, António Costa reiterou a ideia de que o calendário eleitoral devia ser alterado para que as legislativas não coincidam com a altura em que habitualmente se discute o Orçamento do Estado para o ano seguinte. “Quando se devia estar a apresentar o Orçamento, está-se a começar a formar um Governo”, disse o socialista, para quem “saudavelmente” um novo Executivo deveria tomar posse em maio ou junho.

Costa diz que não discutiu com Cavaco esta questão, mas esta manhã, no debate quinzenal no Parlamento, o novo líder parlamentar do PS, Ferro Rodrigues, apelou a um pacto entre todas as forças políticas e o Presidente para que seja possível a antecipação das legislativas, previstas para outubro de 2015. As legislativas não devem ficar “encavalitadas com as presidenciais”, afirmou, invocando “bom senso e defesa da democracia” para justificar o apelo.

Na resposta, Passos negou. Disse o primeiro-ministro: “Respeitaremos os prazos constitucionais. Não vejo nenhuma razão para que não possamos ter as eleições quando elas devem ter lugar. Vejo que o PS está com pressa das eleições, não é novidade. O PS está com pressa de ter eleições desde que nós as ganhámos e por isso apresentou até uma moção de censura. O PS tem uma posição coerente nesta legislatura mas incongruente com o que foi o passado, mas não sei se isso é surpreendente”.

Já cá fora, em declarações aos jornalistas, Ferro Rodrigues recusou qualquer compromisso que sirva de moeda de troca para a realização de eleições antecipadas. “A um ano de eleições”, o PS “não se iria colocar no comboio da austeridade”, rematou o líder dos socialistas no Parlamento.

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Num encontro que “correu naturalmente bem”, António Costa não quis comprometer-se com um acordo sobre uma eventual reforma do IRS, afirmando que “antes de dar novos passos é necessário consolidar” os já dados, numa referência ao entendimento alcançado sobre a reforma do IRC, celebrado no ano passado. Esse acordo “previa uma monitorização” da evolução da reforma, mas “essa monitorização não tem existido”, acusa Costa.

O candidato do PS a primeiro-ministro, António Costa, defendeu também a necessidade de um reforço do “diálogo” entre os agentes políticos nacionais e a urgência de o país “retomar a confiança”.

No final de uma audiência de mais de uma hora e meia com o Presidente da República, questionado pelos jornalistas sobre a necessidade de convergência entre as forças políticas defendida por Cavaco Silva, António Costa afirmou: “Os consensos não são em abstrato. É como eu perguntar: ‘Quer fazer uma viagem comigo?’. A sua resposta normal é: ‘Mas viagem para onde?’”.

“É importante que os diversos agentes políticos possam falar e que falem, falta muito diálogo em Portugal e o diálogo é um fator importante para dar confiança para reforçar a tranquilidade e a certeza nas expetativas do futuro. É importante que isso aconteça e quero agradecer ao senhor Presidente da República a disponibilidade que teve para esta conversa”, afirmou.

Para António Costa, “urgente que o país retome confiança”.

“A instabilidade na ação governativa, o não funcionamento de setores fundamentais da normalidade do Estado – como o concurso de professores e a situação da justiça evidenciam – são obviamente fatores de perturbação que em nada contribuem para dar ao país a confiança que tem de ter para enfrentar os desafios do futuro”, afirmou.