Algumas dezenas de mulheres colocaram este sábado flores junto de uma placa perto da Maternidade Alfredo da Costa, em Lisboa, e deixaram num pano preto nomes de outras mulheres vitimadas por violência doméstica, 398 em dez anos.

Provenientes de várias organizações, lembraram assim a memória das 32 mulheres que morreram só este ano, e para que essa memória não seja em vão, como explicou à Lusa Elisabete Brasil, da União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR).

Junto de uma placa, colocada perto da maternidade Alfredo da Costa em 2012 pela UMAR e pela Câmara de Lisboa, de homenagem a vítimas de violência doméstica no concelho, a homenagem de hoje estendeu-se a todas as mulheres que morreram na última década.

E não sendo os números da UMAR, mas de estatísticas europeias, disse a responsável que a violência doméstica mata mais mulheres do que os acidentes de viação, as guerras e o cancro em conjunto.

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Foi por isso que, explicou, decorreu a ação ali. “Hoje por ser perto do dia de finados, um ato simbólico para marcar pela presença e a deposição de flores”.

E acrescentou Elisabete Brasil: “É, no fundo, um apelo à participação e um apelo à consciencialização e à mudança”.

Porque, garantiu, tem de ser feita essa mudança, começando também pela formação dos mais novos, porque numa década não foram visíveis grandes mudanças no flagelo.

“Estas mulheres não podem ter morrido em vão, têm de nos dar força para nós exigirmos uma mudança”, disse também Margarida Medina Martins, da Associação de Mulheres Contra a Violência.

A violência do género, acrescentou à Lusa Maria José Bravo da Associação Portuguesa de Mulheres Juristas, é transversal na sociedade, não de um determinado setor.

E é, frisou, um crime público, pelo que todas as pessoas devem denunciar casos que conheçam, porque não passa de um erro do passado o adágio “entre marido e mulher não metas a colher”.

As três responsáveis defenderam que os tribunais, perante denúncias de crimes do género, que implicassem por exemplo perseguições ou ameaças, deviam aplicar medidas de coação, “desde logo o afastamento do agressor de locais frequentados pela vítima”.

Por hoje, o momento foi de simbolismo e de consciencialização, com flores amarelas, brancas, lilases e cor-de-rosa, e cartões, centenas deles, um por cada mulher que morreu desde há dez anos. E foi dia de deixar testemunhos e mensagens de esperança.

Tudo ao lado de uma placa que desde há dois anos evoca a memória de Ana Isabel Oliveira, Júlia Santos e Adriana Januário “e de todas as mulheres que morreram em Lisboa vítimas de violência doméstica”.