Ricardo Salgado decidiu reagir aos comunicados do Banco de Portugal, emitidos a propósito de declarações que o ex-presidente executivo do Banco Espírito Santo (BES) fez na terça-feira, 9 de dezembro, perante a Comissão Parlamentar de Inquérito, e enviou uma carta ao deputado do PSD, Fernando Negrão, que lidera os trabalhos, afirmando: “reitero todas as afirmações que fiz na minha audição”. Na missiva, datada de 11 de dezembro de 2014, o antigo banqueiro diz ter manifestado ao governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, em carta de 31 de março de 2014 “inteira disponibilidade para encontrar uma solução construtiva de governance” para o BES, “com forte incidência numa maior profissionalização e independência executiva do banco”.

“Não serei eu que por qualquer motivação pessoal dificultará essa desejável solução”, escreveu Salgado na carta a que se refere, recordando as afirmações que produziu no Parlamento durante a intervenção inicial perante a Comissão de Inquérito. O banqueiro conclui que “existiu consenso” com o banco central nas matérias que disseram respeito à sucessão na liderança executiva do BES e na alteração ao modelo de gestão. Ricardo Salgado acrescenta que esteve “sempre disponível” para a sua saída de “funções de administração” no banco e considera que este assunto ficou claro numa carta que Carlos Costa lhe endereçou a 7 de abril de 2014.

O ex-banqueiro adianta na carta a Fernando Negrão: “nunca me foi transmitido que seria inidóneo para o exercício do cargo de administrador” do Grupo Espírito Santo (GES). “Caso assim tivesse sido”, adianta, “teria, imediatamente, cessado funções”. Ricardo Salgado afirma, também, ter havido troca de correspondência e de e-mails com o líder do Banco de Portugal em que este sugeria não ser prudente anunciar o nome do novo presidente executivo do BES, que seria Amílcar Morais Pires, responsável pela área financeira da instituição, até a uma data próxima da realização de uma assembleia geral do BES que esteve agendada para 31 de julho, véspera da resolução que deu origem ao Novo Banco.

O antigo líder do BES refere, também, que aquela troca de correspondência e de mensagens eletrónicas “culminaram” com um retrocesso da entidade de supervisão e adianta: “nem sequer teria sentido solicitar autorização para divulgar publicamente” o nome de Amílcar Morais Pires como novo presidente executivo da instituição, ” se eu desconhecesse a posição” do governador do Banco de Portugal “sobre esta matéria”. Ricardo Salgado prossegue a carta a Fernando Negrão com a afirmação de que permanecerá “inteiramente disponível” para voltar a comparecer perante a Comissão de Inquérito para prestar “esclarecimentos adicionais”.

O banqueiro, sob o argumento da “salvaguarda do funcionamento sereno e ponderado dos trabalhos”, diz abster-se de “emitir comentários (…) sobre os aspectos semânticos com que os factos são interpretados numa outra carta, datada de 10 de Dezembro de 2014” que o governador do Banco de Portugal se “apressou” a remeter a Fernando Negrão “em nova reação à minha audição”. Em anexo, Ricardo Salgado inclui a carta de 1 de julho de 2014, enviada a Carlos Costa, em que dá conta da disponibilidade para alterar a governance do BES.

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