Uma balaclava (gorro que cobre a cabeça até ao pescoço) a tapar-lhe a cara, um fato de cor preta e um sotaque britânico. Assim aparecera em agosto, no vídeo que mostrou a decapitação de James Foley, jornalista norte-americano, e em outras gravações que se seguiram, a falar sobre outras execuções do Estado Islâmico (EI). Era conhecido, até aqui, como Jihadi John, mas esta quinta-feira foi, por fim, identificado — chama-se Mohammed Emwazi, nasceu no Kuwait e tem 20 e poucos anos.

O jihadista cresceu na parte oeste de Londres no seio de uma família de classe média. Foi na capital inglesa que Emwazi se licenciou em Informática, na Universidade de Westminster, para, depois, em 2012, viajar para a Síria, escreve o Washington Post, Mohammed, por vezes, deslocava-se a uma mesquita no bairro de Greenwich, para rezar, e era “cuidadoso” para não olhar as mulheres nos olhos, segundo relatos de amigos, recolhidos pelo diário norte-americano.

Tweet de Adam Goldman, jornalista do Washington Post e autor do texto que identificou Mohammed Emwazi.

Os serviços secretos britânicos teriam Mohammed Emwazi sob mira desde maio de 2009, quando, acompanhado por dois amigos, viajou até à Tanzânia. Ao aterrar no aeroporto de Dar es Salaam, maior cidade do país, o jovem foi detido e, depois, deportado. Nos meses seguintes viajou para a Holanda, país onde o Al-Shabab, um grupo militante islâmico, opera. Regressaria a Londres antes de se mudar para o Kuwait, terra natal onde arranjou emprego na área da informática.

Por duas vezes viajou até Londres e, ao segundo regresso, foi detido pelas autoridades inglesas, em junho de 2010. “Sinto-me como um prisioneiro, não numa cela, mas em Londres. Uma pessoa enclausurada e controlada por homens dos serviços secretos, que me impedem de viver uma nova vida no meu país, o Kuwait”, escreveu, num email que, na altura, enviou a Asim Qureshi, diretor da CAGE, uma organização de direitos humanos. Muhammed Emwazi ia-se casar no Kuwait.

O último email recebido por Qureshi data de junho de 2012, confessou o investigador ao Washington Post. “Havia uma parecença muito forte [entre Emwazi e Jihadi John, que aparecia nos vídeos]. Isto faz-me ter uma franca certeza que serão a mesma pessoa”, admitiu, ao confirmar a identidade do jihadista. Há três anos, antes de se mudar para a Síria, alguns amigos revelarem que o jovem ainda tentou mudar-se para a Arábia Saudita, onde tentaria lecionar inglês. Nunca mais foi visto em Londres.

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