Uma década passada sobre a morte de Álvaro Cunhal, a figura do carismático líder do PCP ainda é uma influência para a atual direção comunista, sendo como um “cimento para a capacidade de resistência”, afirmou o investigador João Madeira.

O investigador do Instituto de História Contemporânea da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa falou à Lusa a propósito do aniversário da morte de Álvaro Cunhal, e defendeu que “uma figura com estas características, que é inquestionável dentro do partido, que atravessa décadas de história do partido, neste momento representa um cimento, que é um cimento resultante da própria capacidade de resistir às dificuldades do tempo presente”.

“Os tempos são adversos, há uma situação de refluxo ao nível das grandes ideologias e a figura de Cunhal é como que o cimento para essa capacidade de resistência. No fundo um partido que quer permanecer fiel às suas raízes e que tem na figura de Cunhal essa dimensão em que mistura história, identidade, mito, e isso está muito patente a partir do último congresso do partido que foi em 2012”, quando foi decidida a comemoração do centenário do nascimento de Álvaro Cunhal.

João Madeira é doutorado em História Política do Século XX com uma tese sobre o PCP, tendo publicado a obra “O Partido Comunista e os Intelectuais”.

Na opinião do investigador, o PCP legitima-se em função da herança de Álvaro Cunhal, o “grande referente histórico” do qual o partido “não se libertou nem quer libertar-se”.

Álvaro Cunhal nasceu em Coimbra em 1913 e morreu com 91 anos no dia 13 de junho de 2005. Entrou para o PCP em 1931 e assumiu a pasta de secretário-geral em 1961, cargo que ocupou até 1992.

Após a morte de Cunhal o partido tendeu a fechar-se, na opinião de João Madeira.

“Isto é uma lógica de partido fechado, digamos assim. Não estou a dizer que é um partido que não se abre socialmente, tem naturalmente áreas de porosidade social, mas, e isso é uma persistência que vem desde os tempos antigos, a própria flexibilidade tática colide muitas vezes com a ideia de hegemonia”, defendeu.

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O investigador considerou ainda que nestes dez anos de PCP sem o antigo líder os comunistas revelaram uma “tendência lenta para acertar o passo” em questões “de costumes”.

“É um partido do povo e a consciência popular está mais atrasada do que as medidas que se pretendem aplicar, as iniciativas de caráter legislativo, e para não perder essa ligação popular há este atraso, esta dificuldade em acertar o passo com as grandes questões civilizacionais que se vão colocando”, afirmou.

Quanto aos seus dirigentes, João Madeira afirmou que os comunistas têm vindo a renovar-se do ponto de vista geracional.

“O núcleo duro [do partido] é um núcleo que está ainda muito agarrado ao período revolucionário de 1974/75, mas há um sério esforço de renovação como se vê no grupo parlamentar por exemplo, como se vê inclusivamente na própria direção e em alguns organismos intermédios”, declarou, acrescentando que tem entrado no PCP “gente nova da escola do partido – as juventudes comunistas – e essa escola funciona do ponto de vista da homogeneização de pensamento, esse esforço de renovação é um esforço que continua a ser enquadrado por uma identidade muito forte”.