O Fundo Monetário Internacional (FMI) alertou esta quarta-feira que se o programa de resgate grego falhar devido a incerteza política ou a algum cansaço reformista, “pode ressurgir o stress financeiro na zona euro”.

Numa nota preparatória da reunião do G20, que começa na sexta-feira em Ancara, o FMI considera que “os riscos [para a atividade económica global] continuam do lado negativo” e alerta que “a materialização de alguns destes riscos iria implicar perspetivas de crescimento muito mais fracas”.

Em particular no que se refere à Grécia, no documento que não vincula o Conselho de Administração do Fundo, lê-se que a reação dos mercados financeiros às incertezas quanto às negociações do novo programa de ajuda financeira à Grécia “foi limitada” e que “os riscos diminuíram significativamente desde o acordo para um novo programa do Mecanismo Europeu de Estabilidade para a Grécia”.

No entanto, a instituição liderada por Christine Lagarde deixa um aviso: “se a implementação do programa falhar devido a incerteza política ou a fatiga nas reformas, pode ressurgir o stress financeiro na zona euro“.

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No dia 11 de agosto, o Governo grego e as instituições credoras (Comissão Europeia, Banco Central Europeu, Fundo Monetário Internacional e Mecanismo Europeu de Estabilidade) chegaram a acordo para conceder à Grécia um empréstimo de cerca de 86 mil milhões de euros em três anos.

Segundo o acordo, os credores terão de fazer avaliações a cada três meses (a primeira está prevista para outubro) com o objetivo de verificar o avanço das reformas que o Governo prometeu fazer.

No documento hoje divulgado, o Fundo sublinha ainda que o crescimento da economia mundial “continua moderado”, o que se deve, por um lado, a um maior abrandamento das economias emergentes e, por outro, à fraca recuperação das economias desenvolvidas.

China poderá ter um impacto pior do que o esperado

O FMI também alertou que a desaceleração do crescimento económico na China poderá ter “um impacto pior do que o esperado” nas economias dos outros países.

“A transição da China para um ritmo de crescimento mais moderado, embora fosse amplamente esperada, parece ter repercussões transfronteiriças mais graves do que o inicialmente previsto, refletindo-se na baixa do preço das matérias-primas e dos mercados bolsistas”, refere o Fundo Monetário Internacional, num relatório citado pela AFP e publicado antes da reunião de ministros das Finanças e chefes dos bancos centrais das maiores economias mundiais, em Ancara (Turquia).

O FMI advertiu que a situação na China e outros riscos possam conduzir a “uma perspetiva muito mais débil” da economia global se as maiores economias do planeta não levarem a cabo uma resposta “coordenada”.

“São riscos que apontam para a baixa, e se alguns deles ocorrerem em simultâneo, isso poderia corresponder a uma perspetiva muito mais débil. É necessária uma ação política conjunta e forte para aumentar o crescimento e mitigar os riscos”, disse o FMI.

Assim, o fundo instou os países desenvolvidos a manterem políticas monetárias expansivas e programas de fomento do crescimento através da fiscalidade e do consumo.

Os países em vias de desenvolvimento, por sua vez, deveriam, segundo o fundo, “permitir que as suas moedas se desvalorizem substancialmente”, para assim fomentar as exportações”.

A desaceleração da economia chinesa nota-se especialmente nos países produtores de matérias-primas como o Brasil e outras economias latino-americanas, já que os preços destes produtos caíram em consequência da redução da procura do gigante asiático.

Para este ano, o FMI prevê um crescimento global de 3,3%, uma décima abaixo dos 3,4% registados em 2014, enquanto estima crescimentos superiores aos do ano passado para os Estados Unidos e Eurozona e um crescimento quase um ponto inferior ao de 2014 para China.

Os ministros das Finanças do G20, que reúne as maiores economias do mundo, encontram-se esta sexta-feira e sábado em Ancara, para preparar a cimeira do grupo em novembro, em Antalya (Turquia).