A Hungria é um território hostil para os refugiados que ali procuram asilo. Em agosto, foi publicada uma sondagem que indica que 66% dos húngaros vêem nos refugiados “uma ameaça”. E esta quarta-feira, os refugiados foram recebidos pela polícia húngara com gás lacrimogéneo e jatos de água, junto à fronteira com a Sérvia.

Porém, há quem não veja nos refugiados uma ameaça. Um deles é Ferenc Gyurcsany, de 54 anos, o ex-primeiro-ministro húngaro que governou o país entre 2004 e 2009. Hoje, lidera a oposição a Viktor Orbán no Parlamento, mas faz mais: Gyurcsany e a sua esposa, Klara Dobrev, estão a trabalhar com um grupo de solidariedade, que ajuda a identificar refugiados particularmente esgotados para os acolher em sua casa.

Apesar das restrições do Governo húngaro, o ex-governante e a sua mulher afirmam à NPR (rádio pública dos EUA) que a sua casa é suficientemente grande para acolher alguns dos que procuram asilo. O objectivo é proporcionar-lhes “uma noite normal”. E para isso mudaram o seu bebé de 6 meses para o seu próprio quarto, de forma a criar mais espaço para as famílias de refugiados que recebem.

Afinal, afirma Ferenc Gyurcsany à CTV News, “Podemos ter alguns problemas… mas dar-lhes comida normal, uma acomodação [e] lidar com eles como seres humanos normais… é o nosso dever, e este governo [não] cumpriu as suas obrigações”.

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Pela sua casa já passaram muitos refugiados. Entre os mais recentes contam-se, por exemplo, dois jovens sírios e uma família, também ela vinda da Síria. Um deles é Almoen, de 38 anos, que fugiu do território com a esposa e os três filhos. Na Hungria, já havia estado em três campos diferentes.

Almoen conta que as condições de higiene desses campos eram “extremamente precárias” e que a sua família estava exausta, e agradece ainda a hospitalidade de Gyurcsany: “Era tudo tão mau. E aqui é tudo tão bom. As pessoas sorriem. (…) Estou mesmo feliz”.

Ferenc Gyurcsany e Klara Dobrev afirmam que já discutiram sobre se continuarão a acolher refugiados em sua casa, agora que as leis sobre a entrada de refugiados no país se estão a estreitar. Mas a decisão foi unânime: “Há a regra da vida e a regra do governo húngaro. E, se as duas estiverem em conflito, temos de escolher a regra da vida”.

Também nesta semana veio a público outro caso de resistência ao governo húngaro. Uma empresa sediada em Berlim, chamada Mutanox, recusou-se a vender arame farpado à Hungria, segundo conta o diário alemão Die Welt. O arame farpado tinha como finalidade ser usado na barreira que a Hungria construiu ao longo da fronteira com a Sérvia, para impedir a entrada de refugiados no país.

Um porta-voz da empresa afirmou ao mesmo jornal que o arame farpado se destina a ser usado prevenir atos criminosos, mas que as migrações de adultos e crianças não se enquadram nesses crimes.