Milhares e milhares de refugiados chegaram à Europa nos últimos meses, naquela que já é a maior crise de migração desde a Segunda Guerra Mundial. Foram muitos os países que se disponibilizaram a acolhê-los e outros que fecharam fronteiras e levantaram muros. Por isso, ainda estão milhares de migrantes sem saber para onde ir e à espera de recolocação nos centros de acolhimento e registo.

Até outubro, foram recolocados mais de 700 refugiados em países europeus e a intenção é fazer o mesmo com mais 160 mil. No entanto, o processo tem sido longo e difícil devido a dificuldades burocráticas e à recusa em viajar para certos países, conta o Diário de Notícias na sua edição impressa desta sexta-feira. Pelo menos são estas as justificações que são dadas. E Portugal pode bem ser um exemplo disso mesmo. É que o país disponibilizou-se para receber 4754 refugiados, mas só deverão chegar 50 até ao Natal, sendo que 30 chegarão de Itália e 20 da Grécia. Em relação a toda a União Europeia, o número de recolocados não deverá chegar aos 200 até à mesma altura.

Como explicou Luís Gouveia, diretor nacional adjunto do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, atribuem-se muitas vezes as responsabilidades desta demora “às autoridades italianas e gregas, o que em parte é verdade, mas uma das principais razões tem que ver com o facto de os requerentes de asilo não quererem ser recolocados” em certos países. Ora, a maioria destes requerentes de asilo que chegam à Europa preferem ir para a Suécia e para a Alemanha onde muitos têm familiares ou porque ouviram falar de um bom nível de vida e de emprego em abundância nestes territórios. Ou seja, o norte europeu é quase sempre o escolhido, sendo que a Península Ibérica é praticamente desconhecida. Por exemplo, e como refere o DN, tentou-se recentemente que 40 requerentes seguissem para Espanha mas apenas 12 aceitaram.

Por isto mesmo, e para tentar espalhar o nome de Portugal entre os refugiados, o embaixador de Portugal na Grécia, Rui Alberto Terreno, foi, na semana passada, ao campo da ilha helénica de Kos para uma espécie de apresentação do nosso país aos migrantes aí presentes.

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No entanto, o diretor do Serviço Jesuíta aos Refugiados, António Costa Jorge, continua a achar difícil convencer os refugiados a estabelecerem-se em países como Portugal, referindo que, mesmo assim, o maior problema é a burocratização de todo o processo, que tem de passar por várias fases até se decidir em que país cada migrante vai ser recolocado.

Também a Plataforma de Apoio aos Refugiados (PAR) já reagiu a este atraso na recolocação dos 160 mil refugiados na Europa. Em comunicado, a organização refere que esta situação “dá bem a medida da incompetência e falta de vontade política dos Estados-membros e das instâncias europeias em cumprir as suas próprias decisões”.

No caso específico português a PAR defende que devem ser “tomadas as medidas necessárias para desbloquear urgentemente esta situação, nomeadamente acionando mecanismos alternativos de cooperação bilateral com outros Estados-membros” e que o país deve, também, “ser firme e pró-ativo na afirmação das suas convicções humanistas”.