O Sindicato dos Jornalistas revelou que vai apresentar queixa à Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) contra a administração dos jornais ‘i’ e ‘Sol’ por ter divulgado a gravação de um plenário com trabalhadores daquelas publicações.

“O Sindicato dos Jornalistas (SJ) considera que esta decisão ultrapassa todos os limites da decência, abre grave precedente e merece uma análise específica. Por isso, já está a diligenciar a apresentação de uma queixa à Entidade Reguladora para a Comunicação Social pedindo uma avaliação urgente da situação”, lê-se no comunicado que a direção do sindicato divulgou.

O sindicato questiona a legitimidade da decisão de tornar pública a gravação de “um momento grave e íntimo” para a vida dos trabalhadores, sem o seu expresso consentimento.

“Será que os responsáveis editoriais e da empresa não se dão conta da violência, da coação, do abuso? Acham que fizeram boa figura? Que ficam bem na fotografia? Consideram que é um assunto de interesse público, de tal forma que merece ser publicado no site dos respetivos jornais?”, questiona o sindicato.

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Para o SJ, no dia em que foi divulgada a gravação (02 de dezembro) “é um desses momentos que ficam na história recente do jornalismo português pelas piores razões”.

“A realidade consegue sempre ultrapassar a ficção. Mas há dias em que esta frase assenta com particular vigor ao nosso quotidiano já repleto de abusos aos mais básicos direitos dos jornalistas”, sublinha o comunicado.

O som da gravação do plenário, cuja duração é de quase duas horas, foi colocado on-line na terça-feira no jornal i, apenas com o título “Newshold fecha portas. Plenário 30 de novembro de 2015”, sem qualquer notícia a ele associado.

No plenário que reuniu a 30 de novembro, o administrador executivo da empresa, Mário Ramires, explicou aos trabalhadores as razões pelas quais os dois títulos enfrentam um processo de falência que implica o despedimento de dois terços de cada uma das redações.

Também na segunda-feira, o Sindicato dos Jornalistas aconselhou os seus associados a não assinarem quaisquer documentos que lhes fossem apresentados e pediu uma reunião urgente com a administração da Newshold, dona dos jornais Sol e i.

De acordo com Ana Luísa Rodrigues, o Sindicato esteve na quarta-feira com Mário Ramires, não tendo ficado totalmente satisfeito com as respostas, pelo que na manhã de quinta-feira foi enviado um ‘e-mail’ com “perguntas para serem respondidas no prazo de 24 horas, dada a urgência do assunto”.

No plenário, o administrador executivo da Newshold, admitiu que violou a lei ao não pagar a Segurança Social dos funcionários: “não paguei a Segurança Social. Não dei ao Estado os impostos retidos”.

“Não paguei, porque não tinha como pagar, porque ainda acreditava que pagando os ordenados, mantendo as pessoas motivadas, mais ou menos satisfeitas, a gente ia conseguir pagar a Segurança Social. Não temos hipótese nenhuma. Não paguei, vou assumir as responsabilidades. Sou administrador, sou pago para assumir as responsabilidades, não para, na hora de assumir as responsabilidades, ir embora”, declarou Mário Ramires.

Já na quinta-feira, o diretor jurídico da Newshold adiantou à Lusa que a empresa está a negociar planos de pagamento com a Segurança Social, e, paralelamente, criticou as declarações feitas pela presidente em exercício do Sindicato dos Jornalistas (SJ).