Chegou o momento pelo qual milhares de pessoas um pouco por todo o mundo esperam a cada mês de dezembro. O influente suplemento cultural The New York Times Book Review acaba de eleger os 10 melhores livros do ano. Entre eles está A de Açor, da estreante Helen Macdonald, publicado em Portugal em novembro.

A de Açor, de Helen Macdonald

Quando a britânica Helen Macdonald perdeu o pai, o seu mundo desabou. Sabemos disso, bem como da sua paixão pela natureza e pela falcoaria, através da escrita autobiográfica de A de Açor, que a Lua de Papel publicou em novembro em Portugal (16,50€). Com 40 anos e a viver sozinha, a historiadora e poeta encontrou no enorme desafio de criar e domar um açor uma forma de ultrapassar o luto. As descrições e o desafio agarram o leitor e a crítica: “De cortar a respiração. Helen Macdonald cria uma impressão inesquecível da feroz essência de uma ave de rapina – e dela própria – com palavras que mimam penas, tão impossivelmente belas que nem notamos a sua espantosa engenharia”, escreveu o The New York Times Book Review, na crítica que publicou em fevereiro. Volta a elogiá-lo pondo-o em destaque nesta lista.

a de açor

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A Manual for Cleaning Women: Selected Stories, de Lucia Berlin

11 anos depois de a norte-americana Lucia Berlin ter morrido, eis que se torna um sucesso de vendas. A culpa é desta coletânea de 43 histórias, reunidas por um antigo aluno, que o suplemento do New York Times diz mostrarem uma mulher que podia ser a musa de uma canção de Tom Waits, com linguagem direta e muito álcool à mistura. Não se encontra publicado em Portugal.

A Manual for Cleaning Women Selected Stories Lucia Berlin

A Porta, de Magda Szabó

A escritora húngara morreu em 2007 e A Porta não é propriamente uma novidade — foi publicado em Portugal em 2006 pela Dom Quixote (4,90€). O motivo pelo qual o jornal inclui este livro sobre a relação profunda de amizade entre uma escritora e a sua velha empregada deve-se a uma nova tradução (para inglês), de Len Rix. A nova tradução é enriquecedora sobretudo se tivermos em conta que o livro foi publicado pela primeira em 1987, ainda a Hungria vivia atrás da cortina de ferro. Quem gosta de ler em inglês tem aqui uma boa compra. Quem nunca leu o romance também não vai mal servido pela versão que existe em Portugal.

a porta

Outline, de Rachel Cusk

A escritora lançou o oitavo romance no Reino Unido, onde vive, no ano passado. No início de 2015 a obra chegou à América e ainda este ano pôs Rachel Cusk nos finalistas do prémio Baileys, que distingue a melhor obra de ficção escrita por uma mulher. A história, que o jornal considera “subtil, não convencional e letalmente inteligente”, segue a viagem de uma mulher divorciada até à Grécia. Ao longo das 256 páginas há amor e perda, adultério, deceção, orgulho e uma miríade de sentimentos para digerir.

rachel cusk outline

The Sellout, de Paul Beatty

Uma sátira “ultrajante”, é como o jornal descreve o romance cómico que o norte-americano Paul Betty lançou este ano (ainda não publicado em Portugal). O personagem principal da história é um jovem afro-americano que deseja que a sua escola imponha a segregação racial. Não contente, quer recuperar a escravidão e impô-la em casa, à falta de autoridade para mais. A Constituição dos Estados Unidos e os mitos da igualdade racial revisitados com muito humor e sarcasmo.

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Between the World and Me, de Ta-Nehisi Coates

Continuando nas questões raciais, o jornalista e escritor americano Ta-Nehisi Coates publicou este ano um livro em forma de carta para o seu filho, que acaba de fazer 15 anos e cujo futuro o preocupa. Ao longo de 176 páginas, ele conta e, ao mesmo tempo questiona, como é ser-se negro e crescer na América. Venceu o National Book Award para não-ficção, um dos prémios literários de maior prestígio nos Estados Unidos.

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The Story of the Lost Child: Book 4, The Neapolitan Novels: Maturity, Old Age, de Elena Ferrante

História de Quem Vai e de Quem Fica, o terceiro volume de uma tetralogia de Elena Ferrante, saiu em setembro em Portugal pela Relógio D’Água (18€). Os americanos já vão mais adiantados e o New York Times elege o quarto e último volume da história como um dos 10 grandes livros do ano. The Story of the Lost Child é uma “conclusão brilhante” da amizade feminina entre Elena e Lila, que chegou ao século XXI e superou um cenário de pobreza, ambição, violência e disputa política. A Relógio D’Água deverá publicá-lo em Portugal em 2016.

elena ferrante 4 livro

Empire of Cotton: A Global History, de Sven Beckert

O algodão foi um dos bens mais importantes do século XXI. O historiador americano Sven Beckert dedica-se aqui a contar a história do bem que, para ele, deu o pontapé de partida à revolução industrial, o que significa contar o que foi o século XIX, onde se incui naturalmente a escravatura e a condições miseráveis dadas aos trabalhadores. O tema é tratado de forma exaustiva, pelo que não agradará a todos. Não se encontra publicado em Portugal.

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The Invention of Nature: Alexander von Humboldt’s New World, de Andrea Wulf

O trabalho do cientista Alexander von Humboldt (1769 – 1859) é revisitado por esta escritora e historiadora nascida na Índia. Andrea Wulf pesquisou as viagens que o naturalista fez e lembra-nos que as suas visões do século XIX ainda hoje são relevantes. Também entrou na lista dos melhores livros do ano da The Economist. Não está publicado em Portugal.

the invention of nature

No dia 22 de julho, Anders Breivik matou 77 pessoas, depois de um atentado à bomba e de atingir outros com uma arma de fogo em Utøya, uma ilha norueguesa onde estava a decorrer um acampamento do Partido dos Trabalhadores. Na altura, lamentou em tribunal não ter matado mais pessoas. A jornalista norueguesa Åsne Seierstad foi à procura das raízes deste ato de terrorismo e descobriu que o que passou para o mundo como um ato isolado encontra, num país conhecido pela sua segurança, outros jovens com pensamentos igualmente contra a diversidade cultural e os direitos das mulheres. Não se encontra publicado em Portugal.

anders breivik