António Costa apelou à mobilização dos socialistas em torno de Maria de Belém e de Sampaio da Nóvoa. Até aqui tudo bem. Trunfo para Marcelo: dividiu e ele quer reinar. Na estratégia do candidato da direita, o apelo do primeiro-ministro poderia tirar-lhe força, mas não o faz porque divide: “Muito patriótico. Grande ajuda que ele dá”, desabafou, já com os microfones a desviarem-se.

Marcelo Rebelo de Sousa sabe que Costa não será um empecilho e por isso promete um “relacionamento” igual “ao que teria com qualquer outro primeiro-ministro”. E por isso compreende a decisão de Costa, enquanto líder do PS: “Já esperava que António Costa ou votasse em Maria de Belém ou Sampaio da Nóvoa. É uma evidência. Seria um absurdo se não fizesse isso”, disse Marcelo a responder aos jornalistas. Mas também espera que isso não seja um caso para segunda volta.

Mas as palavras do chefe do Governo ficaram-lhe na cabeça e num comício ao final da tarde voltou a responder a António Costa quando este disse que poderiam ser uma espécie de “primárias da esquerda:

“Não faz sentido estar a discutir as eleições como primárias do que quer que seja, quando se está a discutir o social. Não há primárias partidárias, a única primária que se disputa no próximo dia 24 é a primária de Portugal”, disse.

Marcelo Rebelo de Sousa deu o tiro de partida para a campanha eleitoral em Coimbra. Por ali preferiu fazer um discurso a explicar o que quer fazer – uma campanha “simples” e de “afeto” que se quer distinguir dos outros candidatos. Primeiro pela logística: falou dos “três veículos” que percorrem o país de lés-a-lés, dos poucos meios e poucos recursos, para que seja uma “campanha simples”. Depois pelo tipo: esta será diferente porque será “uma campanha dos afetos”, repetiu. E por fim, pela política do candidato: Marcelo atira para a falta de história política dos outros candidatos que teria de se “tentar descobrir uma história política” do Presidente da República.

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Marcelo cola-se à direita e afasta-se de Costa na política social

E se a história política os distingue, o candidato apoiado pela direita quer também distinguir-se nas políticas públicas e fez questão de marcar uma diferença para o atual Executivo em termos de políticas públicas. O candidato deixou um aviso ao atual Executivo: a opinião que tem é que se deve dar força ao setor social e que isso não é incompatível nem com o serviço público nem com o serviço privado. Marcelo passou o primeiro dia da sua campanha (oficialmente só começa amanhã) a visitar misericórdias e instituições de solidariedade social, e fez questão de dizer que a escolha “não foi arbitrária. Foi intencional”.

E foi depois dessas visitas que o candidato aproveitou para falar da lei de bases da economia social, e depois de ter visitado uma instituição inaugurada em maio pelo anterior secretário de Estado da Segurança Social, Agostinho Branquinho, Marcelo defendeu uma política que aposte nestas parcerias. “Mais do que um problema da economia social é de base social. Apostar no setor social não é negar a importância do setor público, nem no setor privado, mas que o setor social foi crucial nos tempos de crise que vivemos e será decisivo para sair da crise”, defendeu.

O assunto toma outra importância uma vez que há uma divisão ideológica entre o atual Governo e o anterior no que diz respeito ao setor social e a política que deve ser seguida no apoio às instituições particulares de solidariedade social, quer no apoio a idosos, quer na educação através dos contratos associação. Marcelo, neste ponto, fez questão de se colar à direita.