O arquiteto português Hélder Santos trabalha na China desde 2004, mas o último projeto que fez – um luxuoso complexo hoteleiro desenvolvido para o conglomerado Wanda Group no sudoeste do país – teve um sabor especial.

“Foi particularmente motivante. Havia muito mais lógica e raciocínio por parte dos responsáveis. Houve um norte, um rumo concreto”, recorda sobre a execução do ‘resort’ de cinco estrelas Wanda Vista Xishuangbanna.

Integrado numa área montanhosa no sul da província subtropical de Yunnan, aquele empreendimento foi desenhado na totalidade pelo ateliê OAD (Office for Architecture + Design), que Helder gere em parceria com um sócio chinês. No total, compreende 151 quartos e suites, centro de convenções, Spa e um parque temático, cobrindo uma área de 46.140 metros quadrados e com um custo de construção fixado em 2,5 mil milhões de dólares.

“Passamos a estar associados com uma companhia que executa grandes projetos e fomos capazes de acompanhar os seus padrões, o que não é nada fácil”, diz Hélder sobre a colaboração com o Wanda. Para o arquiteto, o grupo dirigido por Wang Jianlin, considerado o homem mais rico da China, “é quase sinónimo da evolução chinesa”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Fundado no final da década de 1980 em Dalian, no nordeste da China, o Wanda Group começou por se impor no setor imobiliário, mas nos últimos anos passou a investir também no cinema e no turismo. Em 2012, mediatizou-se ao adquirir a empresa norte-americana AMC Entertainment, proprietária da segunda maior cadeia de cinemas dos Estados Unidos.

Esta semana, anunciou a compra da Legendary Entertainment, produtora de filmes como “Jurassic World” e “Godzilla”, por 3.500 milhões de dólares (3.240 milhões de euros). “É uma empresa com visão e que perspetiva os seus negócios numa era global”, resume o arquiteto.

Casado com uma colombiana, Hélder Santos, 40 anos, é também fruto dessa “era global”: nasceu na Alemanha, viveu em Portugal entre os cinco e 16 anos, altura em que emigrou para os EUA.

Em 2010, a crise financeira internacional levou-o a fixar-se em Pequim: “de repente a construção estagnou nos EUA, enquanto a China atravessa um intenso processo de urbanização”. Com experiência de vida em três continentes, é na freguesia de Canas de Senhorim, no distrito de Viseu, norte de Portugal, que diz guardar as melhores recordações.

“O cheiro do café pela manhã, as torradas com manteiga, o galão e o orvalho da madrugada”, enumera, sorridente. “Coisas muito pequenas. Talvez até insignificantes, mas que são nossas”.

Quando a filha de quatro anos lhe disse que queria um cão, deu-lhe logo duas opções: “Um rafeiro ou um podengo, porque o da Serra [da Estrela] nos Estados Unidos é difícil de encontrar”. “Quero uma raça que eu conheça”, explica.

Instado a comparar os EUA e a China, países politicamente antagónicos, Hélder realça o “caráter autónomo dos americanos”, em contraste com a tendência dos chineses “em seguir o que a sociedade impõe”.

O escritório da OAD em Pequim fica em Dawanglu, bairro que sedia várias multinacionais no país asiático, num cosmopolitismo que se reflete na oferta dos restaurantes locais.

Porém, na secretária de Hélder Santos, cápsulas de três marcas de café – Nicola, Delta e Torrié – fazem um português sentir-se em casa. “Já sabes, só bebo café de Portugal”, atira.