O líder comunista, Jerónimo de Sousa, admitiu que “pode haver um problema” se o Governo “não enfrentar os constrangimentos” impostos por Bruxelas, numa entrevista em que garantiu continuar com “força anímica para liderar o PCP”. Em entrevista publicada esta sexta-feira no jornal i, a duas semanas do XX congresso do PCP, que se realiza entre os dias 2 e 4 de dezembro, em Almada, Jerónimo de Sousa considerou “muito difícil” repetir o atual acordo com o PS, que se ficou a dever a “uma conjuntura concreta”, decorrente da necessidade de responder à austeridade que marcou o período do executivo PSD/CDS.

Questionado sobre se a política de devolução de rendimentos pode vir a ser ameaçada pelas exigências de Bruxelas, o secretário-geral do PCP advertiu que o “PS terá de tomar opções”, insistindo que “os problemas estruturais precisam de respostas estruturais”.

“O que nós achamos é que aqui pode funcionar um pouco a ideia da manta curta. Se insistirmos em aceitar passivamente o pagamento só de juros da dívida de 8,5 mil milhões de euros, naturalmente que depois não há dinheiro para colmatar os problemas económicos e sociais. Não há dinheiro para o investimento e nós necessitamos dele como de pão para a boca”, sustentou.

No entender de Jerónimo de Sousa, as dificuldades “só podem ser ultrapassadas” enfrentando “os constrangimentos”. “Toda a gente concorda que é preciso mais crescimento económico e que é preciso criar mais emprego e mais riqueza, para distribuir melhor. Mas com que meios? Com que condicionamentos? Essa contradição acentua-se. Vai agravar-se, do nosso ponto de vista. Se chegar a ser uma contradição insanável, naturalmente que temos aqui um problema”, alertou.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Sobre se o Governo deve durar os quatro anos, Jerónimo de Sousa voltou a pôr condições. “Tem condições para durar desde que resolva problemas e dê respostas. Só numa visão da estabilidade governativa como fim em si mesma, é evidente que não é aceitável. Os portugueses querem soluções”, defendeu. Segundo Jerónimo de Sousa, “aquilo que é melhor para os trabalhadores e para o povo pode não ser o melhor para o Partido Socialista”.

Na entrevista ao i, o secretário-geral comunista considerou ainda que “o Bloco [de Esquerda] procura desvalorizar o trabalho do PCP”. “Compreendo que o Bloco procure ter protagonismo e levante bandeiras, algumas delas precipitadas, de certa forma procurando desvalorizar o trabalho, a proposta e o posicionamento do PCP em relação a muitas matérias concretas. Achamos isso criticável, embora isso não determine o nosso relacionamento com o Bloco de Esquerda. É evidente que é uma situação de desconforto. É um estilo próprio do Bloco”, salientou.

O líder comunista admitiu igualmente que o BE tem tido melhores resultados nos últimos atos eleitorais, mas alertou que a força do PCP não se me apenas pelo voto. “Nunca meçam a influência eleitoral do PCP pelo número de votos. Este Partido Comunista Português tem uma influência social muito superior à sua influência eleitoral”, acentuou.

Sobre o congresso, Jerónimo de Sousa assinalou que “vai sair um Partido Comunista que honra o seu nome”.