Um estudo divulgado esta quarta-feira pela Agência Europeia do Ambiente revela que a poluição ambiental foi a causa da morte prematura de 6.640 portugueses em 2013. A maioria, 6.070, foi provocada pela exposição a elevadas concentrações das chamadas partículas finas, que podem provocar ou agravar doenças respiratórias e cardiovasculares. Nos casos mais extremos, podem mesmo levar ao desenvolvimento de doenças cancerígenas.

Para o estudo, Relatório da Qualidade do Ar 2016, o organismo reuniu análises ao ar de 400 cidades europeias (realizadas entre 2000 e 2014) e cruzou esses dados com os das respetivas entidades nacionais de saúde. Uma das conclusões foi a de que, em 2014, cerca de 85% da população urbana da União Europeia (UE) foi exposta a este tipo de partículas, responsáveis pela morte prematura de cerca de 467 mil pessoas em 41 países europeus em 2013. Entre os Estados-membros da UE, o número de mortes ultrapassou os 430 mil.

O documento da Agência Europeia do Ambiente divulga ainda dados relativos às concentrações de partículas inaláveis, ozono e dióxido de azoto. O organismo estima que estes dois poluentes, que podem também causar problemas de saúde, tenho provocado a morte prematura de mais 420 e 150 europeus, respetivamente.

Relativamente ao caso português, é apontado apenas um local onde os limites de concentração de dióxido de azoto registados foram superiores aos definidos pela UE — a Avenida da Liberdade, em Lisboa.

Apesar de a redução das emissões ter levado à melhoria significativa da qualidade do ar nos últimos anos, esta não foi suficiente para evitar “danos inaceitáveis à saúde e ao ambiente”, frisou o diretor-executivo da Agência Europeia do Ambiente. Hans Bruyninckx chamou a atenção para a necessidade de atacar as causas da poluição ambiental e de levar a cabo uma “transformação fundamental e inovadora na forma como nos deslocamos, na energia e nos sistemas de alimentação”.

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“Este processo de mudança requer uma ação da parte de todos nós, incluindo das autoridades públicas, das empresas, dos cidadãos e das comunidades de investigação.”

Em declarações ao Expresso, Francisco Ferreira, dirigente da associação ambientalista Zero, chamou também a atenção para o facto de a diminuição da poluição não ter ter solucionado o problema da má qualidade do ar em Portugal. “É verdade que a poluição estava a diminuir até 2014, mas no ano passado a qualidade do ar piorou no nosso país”, afirmou.

Segundo Francisco Ferreira, os dados de 2015 disponibilizados pela Agência Portuguesa do Ambiente mostram que “houve um conjunto de ultrapassagens significativas de valores-limite de qualidade do ar”, que em parte é explicado pelas condições meteorológicas. Contudo, “o aumento do tráfego automóvel potenciado pela descida dos preços dos combustíveis” surge como a principal causa de ultrapassagem. Por esse motivo, o dirigente da Zero acredita ser indispensável tomar “medidas para redução das concentrações em causa”, que devem ficar a cargo “das autarquias das zonas afetadas”.