Após 20 anos da série Pokémon, qual é o segredo da sobrevivência e do aumento de popularidade?

Para os novos jogadores que estão a entrar no jogo o conceito é muito fácil. Atira-se a bola e apanha-se um Pokémon, e depois cria-se e evolui-se esse mesmo Pokémon. A chave aqui é que é fácil de jogar, fácil de entrar e fácil de entender.

Agora pensando em quem já nos acompanha há 20 anos, Pokémon é de facto um mundo que cresce, uma nova era é descoberta, o que significa ter novos Pokémon, novas coisas para descobrir e seguir a continuidade dos jogos anteriores. Portanto, o que temos é a ideia de não ser sempre no mesmo local e tudo estar constantemente a mudar e a evoluir. Não só os Pokémon mas o seu mundo também: a combinação destes dois aspetos é que jogamos num mundo em evolução e essa evolução é que explica o sucesso.

Esperavam que o impacto cultural de Pokémon fosse tão grande e duradouro, que agora têm jogadores de diferentes idades a jogá-los, como pais que o jogam desde pequenos e agora jogam com os seus próprios filhos?

É claro que quando criamos um jogo queremos que ele seja indicado para todos e, conforme fomos fazendo o jogo, e com o passar dos anos, ficámos contentes de ver que tinha chegado a toda gente e que de versão em versão continuava a fazê-lo. No novo jogo temos um sistema que é o Battle Royale onde temos até quatro pessoas a jogar e é possível ter, por exemplo, todos os membros de uma família a jogar juntos ao mesmo tempo.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Por isso, como apontámos o jogo para abranger todas as idades já esperávamos que as pessoas continuassem a jogar pelos anos a fora.

Shigeru Ohmori e Junichi Masuda

Todos nós crescemos com personagens de importância e reconhecimento globais, como o Mickey Mouse, o Donald Duck e os Flintstones. Esperavam que os Pokémon, mais especificamente o Pikachu, se tornassem personagens cujo sucesso ultrapassasse as barreiras dos videojogos?

Na altura, quando criamos o jogo o Pikachu não era um personagem que aparecesse muito: era um Pokemón bastante raro, mas quando passámos para o anime precisávamos de um Pokémon para acompanhar o Ash, e fomos para um bastante raro que era o Pikachu. O engraçado é que nos Estados Unidos o anime apareceu primeiro e as pessoas conheceram o Pikachu antes do jogo, o que foi um processo invertido ao que se passou no Japão, e de repente o Pikachu era conhecido por toda a gente. É interessante também o facto do nome Pikachu ser igual em todas as línguas, o que também ajudou a espalhar o personagem.

Quando pensamos nisto em 100 anos de História, Pokémon está apenas nos últimos 20.

Conseguimos identificar as raízes dos aspetos criativos e de desenvolvimento intimamente ligadas à cultura nipónica. Acreditam que o alcance mundial de Pokémon foi um dos segredos da globalização da cultura japonesa, ou o inverso?

Não foi consciente, o nosso objetivo era fazer um jogo que pudesse ser jogado por qualquer pessoa, em qualquer lugar. Não havia uma intenção como veículo cultural.

Para mim o aspeto importante é que estou no Japão e estou a jogar contra um jogador em Portugal, e isso é a parte divertida e o componente principal.

Pokémon não é um fenómeno exclusivamente dentro dos videojogos, nem tão-pouco um fenómeno estritamente Japonês. É uma experiência global, e o Pokémon Go mostrou isso mesmo. Quais pensam que terão sido as razões dessa febre mundial pelo jogo?

Quando lançámos o jogo há vinte anos, este fenómeno era estritamente japonês, pelo que procurámos tratar de localizar o jogo para outros países. Entretanto surgiu a série anime, lançada em 85 países, pelo que Pikachu passou a ser uma espécie de embaixador do mundo Pokémon, e difundiu o conceito das Pokébolas e como usá-las no universo Pokémon. O Pokémon Go contribuiu ainda mais para difundir os conceitos da série, pelo que o jogo foi crescendo por essa acumulação de conhecimento.

noqfmy74u0ccmz1vhwan

A série Pokémon está profundamente enraizada nas culturas oriental e ocidental. Qual é a sensação de ver uma criação vossa como um marco cultura contemporânea?

Começámos com os videojogos a instituírem-se como uma sub-cultura. E evoluíram de sub-cultura para cultura pop, pelo que eles foram crescendo e evoluindo. Ver as pessoas a compreender e a jogar o jogo deixa-me muito satisfeito, tal como ter sido capaz de criar um ambiente de jogo que é fácil de jogar e de aprender por tanta gente. Vamos ter agora o Campeonato Mundial de Pokémon e conseguirmos ter alguma cobertura no âmbito dos eSports seria muito agradável.

No seu vigésimo aniversário, a tecnologia permitiu-nos ter acesso a toda uma Realidade Aumentada no universo Pokémon. O que poderemos esperar no seu trigésimo aniversário?

Começámos há 20 anos, e essa geração que jogava na altura está agora a jogar com os seus filhos e gostaríamos de continuar a trilhar esse caminho. Quando a próxima geração chegar a essa fase, gostaríamos de atravessar todas as pontes geracionais e reunir todos os jogadores. Para fazer isso, dependerá da tecnologia disponível e teremos que nos adaptar a ela para continuar nesse caminho.

Tradução: João Machado e Ricardo Mota

Entrevista: André Henriques e Ricardo Correia, Rubber Chicken